sábado, dezembro 31, 2011

NÃO AO MEDO E À RESIGNAÇÃO

 

CARVALHO DA SILVA, QUER SE CONCORDE OU NÃO COM AS SUAS POSIÇÕES SINDICAIS, REPRESENTA OS TRABALHADORES.

DELES RECEBE ESSA LEGITIMIDADE, PONTO FINAL.

OUTROS, QUE DELE NÃO GOSTAM E MUITO MENOS GOSTAM DE SINDICATOS, REPRESENTAM NECESSARIAMENTE COISA DIFERENTE.

O QUE ESTES DIZEM PODE VALER PARA TUDO ... MENOS PARA DEFENDER OS TRABALHADORES E O TRABALHO.

ESTOU ENFASTIADO COM OS "MELGAS" SUPOSTAMENTE INTELIGENTES!

sexta-feira, dezembro 30, 2011

A TECNOCRACIA ESTÁ NO PODER MAS ESQUECEU-SE DE IR A VOTOS

 

Albert Speer, um ministro do Armamento e Munições de feição tecnocrata do Terceiro Reich, sem papas na língua, terá confessado que a ditadura de Hitler foi a primeira que soube utilizar, para dominar o seu próprio povo, todos os meios técnicos ao seu dispor. Acrescentou que esses meios tornaram possível submeter os cidadãos a uma vigilância muito ramificada e, ao mesmo tempo, manter em segredo os procedimentos criminosos.

Reconhecer a importância da informação parece-me óbvia. Identificar o alcance e as consequências do seu controlo já se me afigura menos claro e ainda mais inevidente quanto maior se torna a complexidade dos diversos aparelhos técnicos ao dispor dos múltiplos poderes que nos enclausuram.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

OS NÚMEROS NÃO ALTERAM AS REALIDADES; ESTES, FALSIFICAM-NAS

 

O Governo oculta a pouca-vergonha do seu “rigor” com os favores intencionais ou desinformados da comunicação social. Duas perguntas se impõem. Como desfigura o Governo o rendimento familiar por pessoa de modo a exclui-los dos apoios sociais e, com essa ágil saloiice, que tanto persuade os formadores de opinião, poupar 200 milhões de euros? Como trabalhou o Governo, habilidosamente, o seu conceito de “rigor”? Muito simplesmente não procurando alterar as realidades sociais e económicas mas falsificando, através de uma nova mas “inconfessável” relação dividendo-divisor, a mesmidade. Imagine que o Paulo e a Beatriz têm dois filhos menores; o João e a Ana. Como se fazia antes do Governo aplicar o seu aplaudido “rigor”? Para obter o rendimento familiar dividia-se, ao tempo, por 4 (Paulo, Beatriz, João e Ana) para obter um rendimento “per capita”, valor este que resolvia o direito ou não da família a apoios sociais. O que fez este Governo? Passou a família do valor 4 para um outro bem menor, ou seja, 2,7 porque o Paulo ou a Beatriz (um deles) passa a valer apenas 0,7 e os filhos João e Ana somente a 0,5 cada. Ou seja, o truque é reduzir o agregado a 2,7 (1+0,7+0,5+0,5) em vez de o considerar 4 (1+1+1+1). Conclusão; dividir 1200€ por 4 dá 300€, dividir por 2,7 dá 445€. Assim sendo, o limiar da pobreza pode-se manter mas os pobres, em tempo de crise, facilmente passam, com esta finória aritmética, a remediados. Genial…

sábado, novembro 26, 2011

A FALSA ÉTICA DA SOLIDARIEDADE

 

TraicaoNa revista “VISÃO” desta semana (24 de novembro), José Gil escreve um artigo de opinião intitulado “A solidariedade”, desenvolvendo o tema atravessando três aspetos que delimitam, na perspetiva apresentada, o acolhimento que autor aplica, nestas circunstâncias, à análise da referida problemática.

Num primeiro momento, começa por discorrer como a coesão social se instaurou como o “substrato mais primitivo da própria humanidade do homem”, retrocedendo às sociedades exóticas e arcaicas enquanto “ realidade(s) que compreende(m) unidades em que o indivíduo se funde num grupo mais vasto … que determina(m) o … lugar (do indivíduo) e o seu sentimento vital de pertença a um conjunto que define a sua identidade”.

quarta-feira, setembro 14, 2011

A MALQUERENÇA REPULSIVA MAS RECONFORTANTE DO ÚTERO FAMILIAR

 

Rejeita-se o mundo tal como existe mas é através dele que afirmamos a nossa particular singularidade. Nele se enraízam as nossas revoltas e as nossas fúrias. É tudo quanto basta. Mais, seria exigir atos de coragem que desafiariam desconsolos maiores do que aqueles que vivenciamos supostamente entristecidos. Os valores que afirmamos alicerçam o protesto mas apresentam-se com uma vontade decidida em nada mudar, pese embora o sentido enunciado do futuro que inventamos e, sobretudo, exibimos desejar. Justifica-se assim, com acerbo, o protesto mas desajeitadamente se disfarça a nossa cobardice jesuíta de não sermos o que realmente somos e, acima de tudo, o que silenciosa e avidamente invejamos mas não temos a firmeza de carácter de deixar, sequer, transparecer.

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A revolta é a nossa sobrevivência; a sobrevivência dos fracos e dos fingidos. Tudo se faz, nada fazendo, mantendo intactas as razões e a legitimidade dos protestos. Mudar é que não. A revolta precisa de uma ordem que justifique as indisciplinas que a alimentam mas fundamentalmente não faça desaparecer a razão de ser e de permanecer das insubordinações social e culturalmente acatáveis. Sobre nós contamos grandes histórias, evadimo-nos em encenações romanescas entusiasmantes mas descuidamos de medir os desfasamentos dessas narrativas com a vida vivida e, sobretudo, sentidamente experienciada. Esconde-se a identidade biográfica sob o tapete da narrativa fantasiosa que se serve da mentira traiçoeira para ganhar credibilidade e transparência. O estabelecido é uma espécie de útero familiar do qual nos queremos libertar mas que o conforto doentio da cómoda vinculação nos traz uma irresponsabilidade pessoal e histórica que o futuro não deixará de lavrar em inscrições facilmente imagináveis …

domingo, julho 10, 2011

CONTRA O ANALFABETISMO POLÍTICO

 

Alfabetizar não constitui um fim em si mesmo. Preparar o cidadão para o desempenho das suas responsabilidades sociais, cívicas e económicas deve manter-se como princípio da sua missão essencial e originária. Contrariar o empreendimento ideológico da alfabetização política dominante (automática, obediente e acrítica) representa um dever de cidadania e não, de todo, um abuso de semântica.

Um contributo 

sábado, julho 09, 2011

MÚSICA PARA TOLOS

 

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Uma semana sem televisão, rádio e jornais consentiu-me livrar de retóricas atreitas a enjoos e regurgitadas por aquela intrusiva gentalha liberalona e aproada que, na sua soberba certa, não poupa os tunantes - que nada ou pouco têm – dos seus gastos nímios e ociosos e, por isso, particularmente responsáveis pelos desmandos desta pobre tribo lusitana, à qual a troika generosa e pacientemente concede o socorro inadiável.

Cheguei e mal liguei a TV, o pasmo aconteceu. Os elogios peganhentos às notações de abril/maio, por um qualquer milagre insondável, tinham virado levantamentos insultantes aos deuses que neste mês de julho, pelos vistos, avistaram os pecados obstinados e estorvadores de sempre, os de hoje tal como os do meses passados. A punição deve, em vista disso, ser severa; o coração do sistema não pode deixar de bater ao seu desejável ritmo e, por que não, por si apetecível. Por isso …

Mas, para sossego de muitos, nem tudo é arritmia. Afinal, os panegíricos de ontem deram votos a 5 de junho e as sedições de hoje, que tanto encolerizam tal gentalha, provam neste mês de julho e nestas circunstâncias de surpresa dolorosa, a inocência dos recentes ganhadores na inevitabilidade das medidas tomadas e, sobretudo, a tomar no futuro … com a suposta alegação da crueldade imposta pelas obscuras notações do presente.

A culpa precisa, neste enredo de engodos, de se serpentear e ziguezaguear para que os infames continuem a chupar o sangue “tóxico” das suas vítimas estonteadas por tamanha luminosidade e transparência éticas. Bem-hajas, coração tão magnânimo …

Uma argumentação que vem mesmo a propósito; OUÇA

sábado, julho 02, 2011

“POLITIQUÊS” EM DISCURSO DIRECTO

 

ALGUÉM CONSEGUE PERCEBER O QUE ESTÁ ESCRITO NO PROGRAMA DE GOVERNO E QUE EM BAIXO SE TRANSCREVE ? (pág. 119)

A ACRATO

“Apostar fortemente no ensino técnico e na formação profissional

- No ensino secundário, a grande aposta deve  incidir num sistema de formação dual que articule a formação teórica das escolas profissionais com a formação prática nas empresas;
- As empresas devem ser incentivadas a apoiar os perfis profissionais, devendo  também ser chamadas a ajudar a execução da formação prática, assim facilitando  a transição para o mercado de trabalho;
- O financiamento desta rede pode ser partilhado entre o Estado e as empresas.”

ACEITO EXPLICAÇÕES

quarta-feira, junho 29, 2011

A IDEOLOGIA DA NÃO-IDEOLOGIA

 

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A agenda dos nossos problemas oscila de forma descomedida de acordo com circunstâncias e interesses onde a intransparência constitui o entretenimento mais irritante para o cidadão comum. A exasperação agudiza-se quando esses problemas são apresentados com uma frequência inusitada encapotados por discursórios pragmáticos ou técnicos indecifráveis, por vezes acompanhados por obscuras retóricas políticas mas raramente são, o que não deixa de ser estranho, mostrados como obrigatoriamente doutrinários. A desordem anuncia-se nesta lógica obtusa, como convém, concordante com as variações que as ditas circunstâncias avisadamente aconselham a quem bem nos governa e pretende prolongar tal governança. Em certos momentos vocifera-se sublinhando a triste desordem política, noutras ocasiões brada-se denunciando o desarranjo financeiro mas, amiudadamente, faz-se emergir a indignação pelas desventuras económicas e descarrega-se a bílis à aversão brava e ingénita pelas “balbúrdias” sociais.

Neste tempo político actual, confesse-se que ainda bem curto, a mudança de caras na governança tem disso sido, pelo burlesco, paradigmático. A quietação envolvente que uma comunicação social neutra, amansada e optimista procura transmitir é, em si, um pretenso mas esclarecedor sinal de embaraços já galgados que o cidadão comum, estúpido, não sente nem pressente. O País sossegou, vejam só, por que o arrogante e convencido Sócrates foi de abalada para Paris prometendo, nos tempos próximos, regular o seu silêncio ocultando-se nas brenhas da filosofia. A economia, num átimo, recuperou ânimo e, com este ganho destapou perspectivas críveis que, com a ajuda esperançada dos e nos sindicatos, promete fazer da acalmia social uma certeza necessária já felizmente próxima.

Como se pode depreender, por exclusão de partes, o essencial da crise está, como coisa sobrante, na relação milagrosa dos dinheiros com a engenharia achada dos seus créditos, expressa na prestante ajuda solidária e competente da troika e com a anuência inequívoca de cerca de 47% do eleitorado português. Doravante, neste caridoso quadro, resta-nos metamorfosear os protestos sociais, dos mais vivos aos vulgarmente acanhados, em merecidas propostas de louvores ao Coelho, ao Barroso e, com mérito acrescido, à Merkel e ao simpático Sarkozy, não esquecendo o Paulinho democrata e, pelos vistos, cristão que não é exactamente, faça-se justiça, o Paulinho inveteratus beijador das feirantes.

E tudo isto, porquê? Porque os pobres são difíceis de contentar, os malandros calaceiros não têm emenda e os trabalhadores espreguiçam-se em demasia nos estofos da desqualificação e da incompetência, sugando o tesouro público para o qual apenas contribuem com a toxicidade e irresponsabilidade dos seus desvarios. Por isso, o coração do sistema não se pode entregar à esfera promíscua da produção onde aqueles vegetam mas, ao contrário, confiá-lo ao sentido ético e competente dos financiadores, garantes idóneos e incontornáveis de um ambiente económico socialmente promissor e saudável. Os madoffes são fantasias, as actividades criminosas dos offshores invenções e as dívidas de risco e especulativas na busca de dinheiro que não custa a fazer ou as engendradas pelas múltiplas donas brancas são meras induções sórdidas de gente ociosa que nada mais faz do que atrapalhar quem dá o corpinho pelo bem comum. Abaixo as ideologias. Viva a NÃO-IDEOLOGIA …

Imagem retirada do Toca Raul!!! Blog do Raul Marinho

quinta-feira, junho 23, 2011

Educação e Formação de Adultos pouco escolarizados e a Iniciativa Novas Oportunidades

 

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À minha amiga Dina Bernardo

Estabelecer uma relação entre a Educação e Formação de Adultos (EFA) e a Iniciativa Novas Oportunidades (INO) é trazer para um debate exigente e espinhoso, sobretudo pela sua natureza ideológica e axiológica, a importância da capacidade individual e colectiva das aprendizagens, designadamente dos adultos menos escolarizados, tendo bem presente os atrasos estruturais nos planos da educação e da formação que se verificam na sociedade portuguesa, com as consequências sociais, culturais e económicas que se conhecem. Não sendo possível nesta breve reflexão inscrever tal aprofundamento, passo a expressar apenas algumas notas que considero relevantes na relação em análise.

 

domingo, junho 19, 2011

A BONDADE DE UM TROPO ÚTIL

 

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O exibicionismo tem muitas variantes mas apenas a de natureza sexual é vista como patológica e, como tal, considerada uma perversão. O critério essencial consiste, sabe-se, na imposição de exibição ao outro que não o aceita ou, ainda, a um qualquer outro que não se encontre reconhecidamente capacitado para esse acareamento.

Não será tempo de alargar o conceito a outras manifestações humanas, designadamente de carácter político e ideológico com o propósito de tornar este mundo bem mais saudável?

Imagem colhida AQUI

RECORDAR, CONCORDAR E … ACORDAR

 

Para quê políticos? Convidem-se os técnicos, sobretudo os competentes e independentes e a qualidade desta democracia estará, por eles, caucionada. Apenas uma condição se reclama; a quietude e a exoneração dos que nela não se acham …

quarta-feira, junho 15, 2011

A ESTÚPIDA ARROGÂNCIA DA CHANTAGEM MORALISTA DEMOCRÁTICO-LIBERAL

 

Blogue

Ao desfolhar o “Le Monde Diplomatique” (edição portuguesa – Junho 2011) pude ler, logo na 1ª página, num artigo de Serge Halimi intitulado “Argumentos Loucos”, o seguinte parágrafo que, convosco, partilho.

NOTA - A imagem que acompanha este post foi desviada do blogue CONVICTOS OU ALIENADOS

Quando a justiça nova-iorquina recusou dar um tratamento de favor ao director geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), acusado de violação num hotel de luxo de Manhattan, um comentador que alinha pelo diapasão da casta dirigente francesa, política e mediática, ficou chocado com a “violência de uma justiça igualitária” … Acrescentou o seguinte, quase mecanicamente: “A única coisa de que se tem a certeza é que os sentimentos anti-elite alimentados por este escândalo vão aumentar as possibilidades da Frente Nacional de Marine Le Pen nas próximas eleições”.

O meu comentário está feito; expressei-o no título do post

segunda-feira, junho 13, 2011

DO EU SOLITÁRIO AO NÓS SOLIDÁRIO

 

Frei Fernando

Acabo de ouvir uma estimulante entrevista de FREI FERNANDO VENTURA na SIC NOTÍCIAS, com o jornalista MÁRIO CRESPO. Diria que aprovo, no essencial, o que o Fransciscano da Ordem dos Capuchinhos exprimiu, embora como ateu prescinda, e aguardo que dessa desobrigação ninguém me leve a mal, as suas referências a Deus e à Fé.

As suas palavras foram por mim tomadas na sua dimensão filosófica, ética e, sobretudo, política no seu apelo à coragem de experimentar práticas de solidariedade (e de liberdade) face ao OUTRO no sentido de consertar a ESPERANÇA destruída pela decepção, desfeita pela ruína da credulidade e arrasada pelo depauperamento da ideia entusiasmante de progresso.

Regenerar esse histórico laço prometedor entre os defensores do progresso e da justiça social a favor do OUTRO e da SOLIDARIEDADE que a inscreve constitui, hoje mais do que nunca, uma urgência que não pode esperar. O FUTURO, pese embora a desconfiança instalada, não pode vacilar entre a esperança frouxa e o desespero que suspende a ação. A confiança impõe-se porque, só ela, pode animar a vontade de mudar e de (trans)formar.

 VER E OUVIR a entrevista; vale apena …

A designação do post é o título do seu último livro.

OS PRINCÍPIOS CONTRAFEITOS DE UM BEM COMUM TRAÍDO

 

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Riccardo Petrella, que tive o prazer de conhecer pessoalmente, num pequeno livro que tem mais de uma década, “O Bem Comum – Elogio da Solidariedade”, refere que a solidariedade deixou de inspirar os princípios fundadores e as normas de funcionamento das sociedades ditas desenvolvidas. Quais são, então, os princípios que o cientista político e social explicita como contrafeitos? Três, no essencial:

1º PRINCÍPIO - Nada tem “valor” se não houver contrapartida, ou seja, tenha valor económico. Assim, só possui valor de utilização os bens e os serviços comercializáveis concordantes com os interesses da economia capitalista de mercado. Eis a bandeira através da qual se procura fundamentar e sustentar os postulados exaltados da liberalização, da desregulação e da privatização, em desfavor da “necessária” extinção dos bens e dos serviços públicos.

2º PRINCÍPIO - A empresa privada é melhor que a empresa pública porque é uma organização estável para conseguir organizar as relações “comerciáveis” entre os membros de uma comunidade humana e entre os países. Nesta perspectiva, logicamente se convoca a tese segunda a qual o investimento privado é o motor do desenvolvimento de qualquer país e, consequentemente do seu desenvolvimento social, desde que não se inclua aqui o que não rende; os militares e as polícias, por exemplo, têm por função, neste quadro, isso sim, contribuir para a competitividade das empresas. Tudo o resto, é injustificável na linha de que o investimento público cria mais prejuízos do que proveitos. Reduza-se, com o tal apelo ao sentido de responsabilidade, as despesas públicas “não comercializáveis” e, em concordância, os impostos sobre o grande capital, as grandes fortunas e os grandes lucros.

3º PRINCÍPIO - Como corolário natural, a ideia de que o capital financeiro seria a principal fonte de criação de riqueza, insinuando a permuta desta do trabalho humano para o capital financeiro privado e, assim, inspirando a revogação de um sistema de valores desenvolvido e que, historicamente, ocorreu no último século.

 

quinta-feira, junho 09, 2011

NÃO SOU EU QUE O DIGO

 

Economia Moral Política

Comprei na semana passada, um pequeno livro dos ENSAIOS DA FUNDAÇÃO (Fundação Francisco Manuel dos Santos), intitulado “Economia, Moral e Política”, escrito por Vitor Bento, homem licenciado em Economia e mestrado em Filosofia que ocupou, ao longo de uma intensa carreira profissional de 38 anos, diversos cargos de reconhecida responsabilidade pública e empresarial, tendo sido nomeado pelo Presidente da República, Cavaco Silva, membro do Conselho de Estado, em substituição de Dias Loureiro. Tratando-se de alguém que se situa num espaço político e ideológico diferente do meu, mais estimulou o meu interesse pela sua leitura.

Confesso que li a introdução e, de imediato, passei ao último capítulo que, de forma simples mas clara, tematiza A recente Crise Financeira Internacional. Pretendo neste breve texto dar conta dos factores por ele referidos como sendo as causas mais relevantes desta crise que começando por emergir no sector financeiro, não é possível, ainda hoje, conhecer em toda a sua extensão. Refere o autor que embora os factores financeiros apareçam como as causas mais comummente apontadas para a origem da crise, várias outras, económicas e sociais, concorrem para o desenlace.

 

DESCULPEM LÁ, A CATURRICE SADIA DE SER ESQUERDA

 

Esboco

NOTA: Texto que dedico aos auto-intitulados democratas que o são apenas porque a circunstância histórica os faz viver numa democracia para a qual em nada contribuíram. Aos democratas de direita, em especial aos meus amigos, que muito respeito, peço-lhes a compreensão e a tolerância para este firme mas necessário desabafo.

A Esquerda perdeu as eleições. E quando digo Esquerda, quero-me referir a todos quanto, colectiva ou individualmente, sabem que a luta é e será permanente porque a história não se fixa por quaisquer resultados eleitorais como alguns revivalistas ressabiados de direita ou mesmo alguns nostálgicos e dissimulados salazaristas, que hoje e agora, com a arrogância néscia que os define, nos querem euforicamente fazer crer.

A Esquerda a que pertenço por ideologia, convicção e consciência não se mobiliza para pequenas batalhas de vitórias transitórias. Apesar disso, essa Esquerda tem a noção clara da importância daquelas e sobretudo aprendeu com a luta e com as dificuldades a resistir perante as derrotas, como esta de 5 de Junho, consciente das condições combinadas, complexas e profundamente desiguais de um sistema globalmente perverso que, no momento histórico atual, tornou claramente refém o poder político democrático de outros poderes que, atrás daqueles, o amanham à feição sem que para tal se tenham de submeter a votos.

A Esquerda que me tem vindo a fazer um cidadão coerente e solidário, no pensamento e na ação, confirma e valoriza a importância da democracia representativa mas reconhece, com igual vigor e seriedade, as suas limitações. Por isso, trata-se de uma Esquerda que não pode deixar de apoiar e enaltecer o empenhamento, a luta e a dinâmica organizadas no sentido de desafiar, conscientemente, o aprofundamento dessa mesma democracia, convicto da possibilidade do seu necessário e constante desenvolvimento a favor da dignidade das pessoas sustentada, como é óbvio, numa maior e mais empenhada equidade social. As eleições foram, no tempo e no espaço, apenas um momento de uma ação no âmbito de uma luta política mais vasta que urge continuar e aprofundar …

Imagem retirada DAQUI

quarta-feira, junho 08, 2011

OS INTELECTUAIS - SILÊNCIO IMPOSTO OU PROSTITUIÇÃO DE LUXO?

 

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Imagem retirada do BLOG AS LEITURAS DO CORVO

 

CORPO ADENTRO de Bernardo Coelho

A primeira grande investigação sobre a prostituição de luxo em Portugal.

Corpo Adentro é um olhar que desvenda o denso e oculto quotidiano destas mulheres, prostitutas e acompanhantes. Uma intensa e rigorosa pesquisa que permite compreender como as acompanhantes dão corpo a uma identidade sexualizada.

 

A analogia não é, de todo, despropositada …

Os tempos de hoje exibem, aos olhos de qualquer moral de reputação merecida, para além de um desprezo indecoroso pelo FUTURO, perplexidades inaceitáveis feitas de múltiplas iniquidades ofensivas ao respeito pelas pessoas e insuportáveis nos planos das exigências mais elementares de justiça social. Embora submersa em bens materiais de toda a casta, a sociedade no seu conjunto oferece-nos, com efeito, uma triste e inquietante QUALIDADE tendo presente os valores da DIGNIDADE HUMANA e da JUSTIÇA SOCIAL que, pela sua centralidade, determinam e autorizam o julgamento de mal-estar e apoquentação.

 

domingo, junho 05, 2011

SÓCRATES, DESPEDE-SE DE 1º MINISTRO A CAMINHO DAS PRÓXIMAS PRESIDENCIAIS

 

Como podem imaginar, não sou Sócrates, nunca fui, não serei no futuro certamente mas, não sei se terei de engolir, um dia, este “batráquio”, por sinal, de modo nenhum anuro. Habilidoso como neste discurso de despedida, registo, o derrotado 1º Ministro se afasta daquela insolência de estilo que levou, associado a políticas claramente por muitos rejeitadas, uma parte do eleitorado a “correr com ele” e, com um tiro que mata dois coelhos, mostrou a Cavaco a inteligência de um homem não ressentido que tem o arcaboiço impudico de passar a mão, embora enjoadiço, pelo … pêlo, de todos os portugueses.

 

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Os candidatos que, de braços dados, vão conflituar nas próximas presidenciais

Ao contrário, o lepidóptero Capoulas, em momento de acefalia provavelmente transitória, penso eu, responsabiliza a “estrema-esquerda” do revés indigesto do seu grupelho larvícola. As contradições do costume …

5 DE JUNHO - ENTRE A ESPERANÇA E O DESESPERO

 

Li o que não pude deixar de ler, escrevi apenas e-mails improrrogáveis e nada fiz que importe aludir ao longo desta última semana. Não obstante, andei muito atarefado, ou melhor, alegremente azafamado com convívios, afectos e memórias de stupidfamiliares e amigos que me fizeram viver e reviver. Ainda bem. Não dei por mim, nesta feliz circunstância, acareado com aquela vontade indeterminada, e de arriscada auto-compreensão, em ir de companhia com esse folguedo eleitoral feito de um vazio político penoso e desesperante. Mormente, descansei da perversa comunicação social que presta aquele submisso, comovente e patológico papel de perversão democrática.

Sou um, entre muitos, que entende que a democracia é tanto mais democrática quanto mais esclarecidos forem os cidadãos. Assistir, assim, à degeneração mórbida das inteligências estimulada por múltiplos figurantes, nos quais incluo, julgo que com toda a propriedade, os supostos doutos “politiqueiros” que se travestem de imparcialidade, constitui, para mim, o clímax do masoquismo moral e intelectual da farsa eleitoral. O PS recusa os privilégios de Marcelo mas não tem a vontade, e por isso dispensa a coragem, de fazer alinhar a prática com o discurso que a ocasião madrasta solicita no seu despudorado significado oportunístico. Mais do que discrepância, estamos na presença da eficácia de uma produção procurada da dita degeneração que serve aquela alternância que cria a verdadeira gordura do sistema; o sebo e banha dos seus gulosos.

Nesta pantomina trágico-cómica, os gulosos insaciáveis na voragem da sua avidez, tudo fazem para tornar os cidadãos em esqueléticos eleitores, mendigos de um direito que virou dever de poder escolher apenas os pratos do dia de um cardápio que exala o fedor da burocracia acomodada pelo mundo das negociatas, ambos com a reputação em baixa, atravessando desavergonhados as ruas da amargura ética. Como o passado recente tem vindo a acusar, os compromissos assumidos valem até ver e os direitos com facilidade são engolidos na sua historicidade pelas bocarras desses chulos glutões. Entre a esperança e o desespero, resta-me ainda a dignidade da história e a referência daqueles que serviram sem nada pedirem em troca. Todavia, até quando esta memória me dará energia para acreditar?

Imagem retirada daqui

domingo, maio 29, 2011

A MELANCOLIA DA ARISTROCACIA DE OUTRORA

 

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Como recordo o tempo da solidão e da incompreensão que forjava em mim a vontade quase religiosa do desprendimento e do desprezo pelas regras comuns. Como sinto a nostalgia desse tempo em que me imaginava um ser superior, diferente e tranquilamente distante. Como me lembro desse tempo maravilhoso em que o belo e as paixões atraíam os meus sentimentos e os meus pensamentos e os devaneios ardentes e sonhadores me bastavam. Esse tempo em que a vida era simples e a originalidade quase tudo para um viver pleno. O sofrimento fortuito, esse, não tinha energia para criar dor porque as ilusões atentas não o consentiam e a mágoa me era desconhecida. Hoje, velho, enfastiado e ocioso, sinto na alma a incapacidade da aristocracia de outrora e, com tranquilidade, vivo a presença de uma decadência sem chama e marcada pela melancolia. Apesar de tudo, com a mesma tranquilidade de outrora …

A VISIBILIDADE QUE DÁ EXISTÊNCIA À INSUFICIÊNCIA DA DEMOCRACIA

 

Transgénicos

Lamenta-se não ter conhecimento suficiente da sociedade que está perto apesar de outros, sem rebuço, se permitirem mostrar o mundo que se sente e se percebe mais afastado. A encenação ganha aí o seu espaço e desproporciona-se perante a descuidada dispersão. Lasciva e com intenção, trabalham-se os palcos que importam. De modo matreiro, o visível e o invisível oferecem, nesse tempo, percepções, sentimentos e representações numa desapercebida economia da atenção. A ficção mediática esquissa, então, as realidades necessárias feitas de coisas cinicamente simples, no entanto, fixadas pela estranheza e pela opacidade. A transparência, o suposto cabouco fundamental da democracia, transforma-se docemente no seu mais previsível buraco tóxico.

Devorados pela impudica sedução do consumo, pelo desassossego de um quotidiano agitado, pelo trabalho inumano e desregrado ou, ao invés, pelas preocupações da sua escassez, mais surrados se fica pelo desmando torpe da (des)informação. Acresce, que a ignomínia insatisfeita ou insegura, reanima-se em permanência com as técnicas subliminares e eficazes de invocação da atenção que importa e interessa às proeminências sociais discutíveis. É assim que a encenação ocupa, nesta candonga bastarda, o lugar das ideologias e, deste jeito, procura a fulanização de uma suposta credibilidade que justifica o abastardamento.

 

sexta-feira, maio 27, 2011

OBRIGADO … E ATÉ SEMPRE

 

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Venho por este meio, que as novas tecnologias me disponibilizam, agradecer publicamente a todos os que me permitiram, pela densidade relacional, humana e social, sempre muito presente e intensamente vivida, crescer como pessoa e profissional ao longo deste caminho explorado enquanto avaliador externo, funções que exerci apaixonadamente desde 2002, no âmbito dos processos de reconhecimento, validação e certificação de competências (RVCC) e que o silêncio indesculpável da Agência Nacional (ANQ) para a Qualificação me diz ter chegado ao fim.

Entre eles, para além dos adultos a quem proximamente dedicarei um texto próprio, quero destacar os diretores, os coordenadores, os profissionais e os formadores dos respectivos Centros de Novas Oportunidades (CNO) com quem tive a alegria estimulante de partilhar perspectivas, reflexões, incertezas e paradoxos na busca perseverante de respostas necessárias e entusiasmantes na promoção sempre espinhosa e exigente desse propósito mais nobre da Educação de Adultos que é o da transformação social e do desenvolvimento inteiro das pessoas, tendo em conta a historicidade das suas realidades concretas e contextualizadas.

quinta-feira, maio 19, 2011

O DESAMPARO E AS ILUSÕES ELEITORAIS

 

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Nós, os humanos, procuramos os laços sociais para nos defender dos nossos múltiplos e diferentes desamparos, sentidos, vividos ou imaginados. É a natural necessidade de proteção que nos leva ao alimento, ao afecto e ao amor. Ao longo do tempo, a natureza dessa dependência vai mudando, evoluindo do fisiológico vital para o alimento que dele transcorre para o universo complexo e humano do psicológico.

Logo, procuram-se as fontes que os desejos insatisfeitos reclamam, sejam elas religiões, mestres ou verdades, na ilusão de um qualquer acolhimento que nos transmita conforto e tranquilidade. Neste devir natural, surge então de modo dramático, um tempo cinzento em que descobrimos a insuficiência dos que nos são próximos e, em resposta a um forte apelo de sobrevivência, somos atraídos pela comodidade da oferta intrusiva de outros ideados poderes, dos deuses às teorias, na busca humana das ilusões necessárias à proteção sentida, pela sua carência, como angustiante e inconsolável.

Com o passar do tempo, a autonomia que descobrimos e desejamos passa a conflituar com as ilusões que a vida entretanto nos denuncia e, igualmente, embora de modo paradoxal, com a atração por nostalgias que nos fazem reavivar memórias em busca de um reencontro com um passado infelizmente perdido. É neste quadro de angústias que, através de construções imaginárias e simbólicas, internas ou voltadas para o exterior, os humanos procuram respostas de razoabilidade e de esperança histórica. O cinismo e a hipocrisia da argumentação política, densamente presente nesta campanha eleitoral, não eliminam – bem pelo contrário – este sentimento generalizado de desamparo em que todos nós, ou quase todos, vivemos.

Para memória futura MEMORANDO DA TROIKA

quarta-feira, maio 18, 2011

AS NOVAS OPORTUNIDADES E OS VELHOS PRECONCEITOS

 

01511A dupla Sócrates/Maria de Lurdes trataram, do meu ponto de vista, mal a educação e muito mal os professores. No entanto, não vou argumentar sobre essa realidade controversa e mais geral. Vou apenas referir-me à Iniciativa Novas Oportunidades (INO), questão aqui em apreço, tendo em atenção o que ontem pude ouvir no quadro fragmentado, e sempre simplificado, do folclore noticioso. Para descanso meu e de outros, uma nota prévia; a 5 de Junho não votarei Sócrates (“jamais”) e muito menos em Passos ou Portas. A nota prévia justifica-se porque quero afirmar, convicta e ousadamente, que a INO constituiu, talvez, a medida de política formativa mais relevante e positiva tomada pelo governo PS. Ao ouvir ontem - através da dita escolha noticiosa da sempiterna “inocência” da comunicação social - o cinismo aferrado dos interesses políticos de Sócrates, Passos, Portas e até de Carrilho, cumpre-me telegraficamente dizer o seguinte:

 

A PUTA QUE OS PARIU OU … “PUTA QUE OS PARIU”?

 

José Saramago

«Privatize-se tudo, privatize-se o mar e o céu, privatize-se a água e o ar, privatize-se a justiça e a lei, privatize-se a nuvem que passa, privatize-se o sonho, sobretudo se for diurno e de olhos abertos. E finalmente, para florão e remate de tanto privatizar, privatizem-se os Estados, entregue-se por uma vez a exploração deles a empresas privadas, mediante concurso internacional. Aí se encontra a salvação do mundo... e, já agora, privatize-se também a puta que os pariu a todos.»


José Saramago - Cadernos de Lanzarote - Diário III - pag. 148 – texto enviado por Manuel Micaelo

Imagem retirada daqui

segunda-feira, maio 09, 2011

O desassossego da oportunidade

 

Um artigo de opinião onde se pode ler …

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Os grupos sociais que produzem as crises mantêm em geral, e salvo casos raros de colapso sistémico, a capacidade de definir a crise de modo a perpetuar os seus interesses durante e depois dela. A crise só deixa de ser destrutiva na medida em que se transforme em oportunidade nova para as classes sociais que mais sofrem com ela. E, para isso, é necessário que os termos da crise sejam redefinidos de modo a libertar e a credibilizar a possibilidade de resistência, o que implica luta social e política.

ACRESCENTO, provavelmente arrebatado, manifestando em alto e bom som, que o movimento socializador do reconhecimento do(s) indivíduo(s) e, sobretudo, do indivíduo enquanto totalidade, pode e deve inscrever em si a necessidade, e como tal, a legitimidade humana e moral das lutas social e política. Um crime de roubo, facilmente se reprova porque o direito à propriedade, sagrado que é, foi amputado. E os crimes contra a dignidade e a integridade das pessoas? E onde estão eles, esses criminosos, muitos dos quais se passeiam pelos ecrãs das nossas televisões? Tenho para mim que a cidadania, e o sentido de humanidade que a engrandece, através da indignação ativa e consequente, constitui um pilar essencial à criação de relações de reconhecimento eticamente amadurecidas, pressuposto insubstituível na (re)construção efetiva de uma comunidade justa e solidária feita de cidadãos livres. Para mim, com toda a sinceridade o afirmo; há muitos criminosos da fato e gravata em liberdade … para mal do BEM COMUM !

sexta-feira, maio 06, 2011

UM PALPITE - VENHA A CONFIRMAÇÃO …

 

Em Março de 2007, especulava-se já sobre o sucessor para Carvalho da Silva. O próximo congresso está cada vez mais perto. Aqui vai o meu palpite. Apresento-o a quem anda muito distraído ou desinteressado. Um homem de convicções, sereno, mas de uma assertividade acima do comum. Os “poderes instituídos” que se cuidem. As aspas significam. Temos HOMEM para “eles” ….

quinta-feira, maio 05, 2011

UM AGRADECIMENTO

 

Este quadro não veio diretamente da ACADEMIA DOS INCAMMINATI (encaminhados) mas pintado por MARIA CÂNDIDA LOPES, a quem solicitei a obra. Trata-se de um pormenor - o menino que rema - do quadro “Sermão de São João Baptista”, de Ludovico Carracci.

Ludovico Carraci, que foi diretor da Academia dos Incamminati, “tornou-se o principal intérprete das ideias expressas pelo cardeal Gabriele Paleotti no Discurso Sobre Imagens Sacras e Profanas, no qual se insistia no poder comunicativo das imagens sacras e se evidenciava a necessidade de uma política de controlo sobre os conteúdos expressos”. É nesta perspectiva que Ludovico evita as “complicações tardo-maneiristas de difícil compreensão para o povo”, procurando “uma pintura simples que exprimisse com clareza os conteúdos sacros”. Desta escola saíram todos os grandes representantes da pintura bolonhesa do século XVII, de acordo com A GRANDE HISTÓRIA DA ARTE, edição do jornal Público.

À Maria Cândida o meu reconhecimento e aqui fica o seu email para quem a quiser contactar: didita.lopes@gmail.com

A VELOCIDADE DA TRANSGRESSÃO

 

Não sou um condutor exemplar, confesso. No entanto, acrescente-se, mais por razões de competência em matéria de condução do que propriamente por incumprimento exigente do dever de cidadania no que às regras de trânsito diz respeito. O que costumo dizer aos amigos, é disso expressão metafórica e significativa; que apenas receio as armadilhadas como as dos limites de velocidade 50 que nos aparecem quando menos se espera e que a descontração de uma condução responsável, apesar da sua “inadimplência”, possa virar crime.

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No entanto, se este aspecto merece alguma preocupação pela perplexidade do seu desproporcionado carácter normativo, por muitos exaltado, para mim o 50 faz todo o sentido pelo seu valor indicativo cujo respeito deve ser naturalmente vigiado, tendo em conta os distintos contextos em que o dito sinal cumpre a sua função. Se este raciocínio não é de todo despropositado, o problema passa a ser, não o do respeito rigoroso pelo 50, mas o da conflitualidade das definições moral e normativa da transgressão. E é aqui que o irrisório me parece que acontece por força de conveniências por vezes absurdas e inconfessáveis e dos múltiplos testemunhos que suportam estes julgamentos e suspeitas.

sábado, abril 30, 2011

A RESIGNAÇÃO LEVA-TE PARA ONDE OS OUTROS TE QUEREM LEVAR

 

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Ter a coragem de procurar e construir a liberdade, a nossa liberdade pessoal, supõe atender-se à aprendizagem dolorosa da independência, não temer apostar nos desafios das diferenças e aproveitar, com inteligência, a fecundidade, mesmo que circunstancial, das nossas histórias, paixões e energias. O julgamento normalizador, normalmente cínico, de feição vigilante e paternalista, oriundo de poderes múltiplos de duvidosa legitimidade, constitui a ameaça que importa saber nomear, desaprovar e, com força moral, travar com ele o combate necessário.

Para a compreensão das suas origens, importa lembrar que a definição do aceitável foi, ao longo de tempos mais recuados, direito quase exclusivo das minorias dominantes, da religião e do Estado. Regulava-se a vida de todos e de cada um de nós a pretexto da coesão moral e social que convinha respeitar e manter. Eles e as suas pretensões, umas confessáveis outras nem tanto, ditavam as normas do admissível e traçavam os limites toleráveis dos desvios. Assim se arquitetavam as referências morais a serem observadas e os comportamentos que as enalteciam.

 

sexta-feira, abril 29, 2011

OS QUATRO

 

Nota pessoal – Quando o aparato a 4 vozes precisa e se serve de tanto “poder simbólico”, é no silêncio que elas buscam que se trama a ocultação das razões que desejam reprimir.

 

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A dissolução da Assembleia foi o pretexto para que o atual Presidente da República transferisse para Belém as comemorações oficiais do 25 de Abril. Seguiram-se quatro discursos do atual e de cada um dos ex-presidentes. Quatro discursos que poderiam ter sido um, tal a sintonia, tal o encaixe e distribuição de papéis, tal a comunhão de análises e soluções.

Disseram-nos que todos somos responsáveis pela situação a que o País chegou, todos! Disseram-nos que os portugueses andaram a viver acima das suas possibilidades, que quiseram ter casa e educação para os filhos. Disseram-nos que o Estado gasta para lá do que pode com escolas, hospitais estradas e afins. Disseram-nos que o que ainda nos vai valendo é a União Europeia – e agora o FMI – para nos acudir nas aflições. Disseram-nos que vêm aí tempos ainda mais difíceis, tempos de brutais sacrifícios e dificuldades. Disseram-nos mal dos partidos, de todos os partidos e que é tempo destes porem os interesses do País à frente dos seus. Falaram-nos da dívida, do défice e da crise, e que agora não há outro caminho, que não há alternativa, que não seja a da união de todos, a união nacional, para apoiar e aceitar esta cruz.

 

quarta-feira, abril 27, 2011

ÀS VEZES DÁ-ME ASCO VIVER NESTE MUNDO

 

Reação de José Mourinho após a derrota no Super Clasico

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O que ainda Mourinho quer ser, para além do que é, nem sempre depende ou dependerá dele. A ideia que se tem é que o que dele depende, facilmente se torna paixão indisciplinada ao contrário do que era suposto ser útil e necessário. A agitação irreprimível, leva a crer, sufoca-lhe a quietação desejável, a energia torna-se incontrolável e essas ondas alterosas parecem atirá-lo para margens virtualmente danosas. As possibilidades por si imaginadas de ser e de conquistar desafiam a realidade e esta passa a ser, e isso é que é comovedor, por ele julgada através dos possíveis que se tornam na sua referência absoluta de estar e desejar. Mourinho corre, em permanência, o risco de sonhar sonhos que o fazem, persistente e pateticamente, desprezar uns e invejar outros, fazendo flutuar os critérios de julgamento ao sabor dos seus devaneios temerários. Os desmandos, neste patamar competitivo em que se encontra, começam a ser sinais dos limites que Mourinho não aceita ou nunca aceitará reconhecer.

O futuro dirá da pertinência desta minha ousada percepção um tanto ou quanto intuitiva e, muito provavelmente, ingénua, dirão outros. No entanto, sincera é. Importa confessar …

terça-feira, abril 26, 2011

UMA LOUCURA SAUDÁVEL

 

0000073852Acabo de chegar de umas pequenas férias e não resisti, por um masoquismo prazenteiro, a sofrer comprazido com as falas de Sócrates e da Judite de Sousa, nessa neutral e convincente SIC. Apenas um brevíssimo, e como sempre, modesto comentário. Sem qualquer pretensão de previsibilidade de ganhos, Coelho será nestes tempos de proximidade política, um presumido estagiário de sacristania no altar da sede da diocese política num confronto desigual com esse arquiepíscopo, igualmente presunçoso, que apresenta teimosamente uma obra desmerecida e, como não bastasse, uma nobreza de qualidades que não tem. Durante essas falas altaneiras, Sócrates consumiu todo o tempo, não a responder à saloiada questionável da Judite mas, a bater nesse engravatado sumido que se dá pelo nome de Coelho. Mas esta é a comédia-drama eleitoral montada pela bajuladora e despudorada comunicação social que assim trama o mais familiar procedimento de exclusão, ou seja, tece aquele silencioso interdito que define os sérios e os outros, os atores e os figurantes, os responsáveis e os loucos. Por mim, dá-me gozo conservar a saudável loucura de figurante galhofeiro…

quinta-feira, abril 21, 2011

NAS CRISES, A ARROGÂNCIA TEM POR DESPREZÍVEL O SOFRIMENTO

 

O tema da dissolução da Assembleia, dos seus motivos e consequências, leva a “comunicação social sem contraditório”, nas suas relações de interesses sempre inconfessáveis, a agendar para o debate mediático o VALOR DA RESPONSABILIDADE ao associar a CRISE – eterna para uns, supostamente conjuntural para outros e inexistente para uns quantos – à atual crise política, de modo a que esta dobre a primeira, tornando aquela de segunda ordem.

 

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Imagem obtida em Sara Alves – Escritos

Neste ardil ideológico e político de esperteza duvidosa, ao qual se acrescenta deliberadas e diversas fulanizações para compor as encenações de magia que interessam, pretende-se, tão-só, persuadir os incautos de quem merece ou não a confiança, no futuro próximo e urgente, de governar. E com esta prestidigitação parteja-se a noção de “arco de governação” tartucificando quem merece ou não aceder à governação, contrafazendo as exigências e as condições dessa mesma governabilidade.

 

terça-feira, abril 19, 2011

A DESAGREGAÇÃO DA EUROPA E A CAMPANHA DO FIXE MÁRIO

 

ANTES CLONE DO QUE COLONO

O Fixe Mário é europeísta convicto e, sobretudo teve a arte e o engenho, quem diria, em ser dos primeiros a denunciar os perigos da desagregação europeia em virtude desse desditoso neoliberalismo que, segundo ele, está na origem da crise global e está longe de ter passado. Profetiza o Fixe Mário, com aquele ar de avô bonacheirão com que, vezes sem conta, diverte os simplórios mais desatentos.

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Imagem obtida em A Especiaria: A ESTRANHA LUCIDEZ

Apesar de tudo, o Fixe Mário não deixa de se exibir um entusiasta do projeto europeu porque, para além de outras bondades, o projeto prometia e comprometia-se a respeitar em absoluto a justiça social com direito aos cuidados de saúde, tendencialmente gratuitos, ao ensino, para todos, e à segurança social, na doença e na velhice, criando assim verdadeiras sociedades de bem-estar, como nunca tinha havido, em parte alguma.

Mas os portugueses, como sempre abusadores, convenceram-se de que pertenciam, definitivamente, ao chamado primeiro mundo e começaram a viver acima das suas posses, como se alguém lhes tivesse, alguma vez, segredado tamanhos benefícios. Mas o mundo evoluiu e atraiçoou o Fixe Mário desacautelado. Não se sabe bem se chorou ou chora e porquê, o colapso do universo comunista, que reputa de um colossal embuste que instou, não se sabe se bem ou mal, os regimes do Leste europeu a converteram-se em democracias e, atrevidamente, a quererem integrar-se na entusiasmante e prometedora União Europeia.

sábado, abril 16, 2011

A CARTA

 

1234299641Querido amigo,

Mereces este desabafo e eu, muito provavelmente, a necessidade de respirar. Depois de, naquele dia do meu aniversário, ao jantar, teres tido a paciência e a generosidade de me escutar, senti hoje a necessidade de acrescentar algo ao pouco que, nesse dia de revelação recíproca de memórias, tive a coragem de confidenciar. Hoje, penso que não se trata de coragem mas apenas do pressentimento egoístico de uma satisfação rara e antecipada de partilhar contigo fraquezas e receios mantidas numa intimidade muito particular e pessoal.

Sinto que tenho uma personalidade que, sendo obviamente única, é muito própria e singular. Disseste-o e tens razão. Sei que não me revelo, como tu bem sublinhaste, mas não te confirmo que me acho permanentemente de mau humor com a vida. O meu estado de espírito parece dividir-se, a todo o momento, entre uma intimidade feita de explosões surdas e silenciosas e um retraimento deliberado sobre mim mesmo, procurando mostrar uma imagem social de tranquilidade e de coerência. Vivo, como podes imaginar, abalado em identificações persistentes e fatigantes em que o eu, os outros e o mundo se me atravessam numa desarmonia vivida e sentida continuamente como desconcertada e incómoda.

Reconheço que não tenho força nem coragem para me reinventar. Não o mostrando, é-me evidente a percepção de que os recursos me escasseiam para o tentar. Defendo-me, confesso, exibindo o que sei não ser e, com receio de que os outros descubram, ufano-me de ser o que não sou. Lamento ter de te dizer que é deste modo que me prendo à minha realidade de não ser e que, com base nesse orgulho imaginariamente construído, ajusto as múltiplas e necessárias justificações aos “outros”, que igualmente concebo, tornando as minhas falsas razões bem úteis, apesar da incomodidade do peso, sempre presente, do seu desconforto íntimo que teima em me atormentar e castigar.

É na violência desta sabedoria forçada que exponho a minha teimosia pateta e a minha igualmente triste arte de dissimular, adaptando-me ao que tenho e ao que sou capaz de ser, imaginando e urdindo sortes e satisfações a partir de pequenos e desprezíveis nadas. Por ideologia, tenho necessidade de me afirmar politicamente de esquerda mas, confesso, convivo bem com as ordens que me aquietam e, sobretudo, as que evitam outras que desafiam crispações que, com toda a sinceridade e naturalidade te digo, dispenso. Sinto-me ridículo quando não, sinto-me ser mesmo um tipo ridículo. Procuro o disfarce fazendo questão de me mostrar, por vezes de forma tristemente desajeitada, aberto ao mundo e às suas modernidades mas, no plano existencial, no meu dia-a-dia, oculto com a minha estúpida astúcia empedernida a predisposição singular do meu subconsciente conservador.

Não tenho dúvidas que se trata de um procedimento que funciona e me convém neste dramático desafio de sobrevivência que, embora o admita vitalmente necessário, me indispõe e aborrece. Apesar da sua debilidade, a minha razão experienciada como irremediavelmente enfraquecida, consegue queixar-se, no entanto, que essa desaprovação não aconteça no momento certo mas sempre fora de tempo, em momentos de eficiente distanciamento e lucidez quando, silenciosamente, acuso-me de fraqueza e cobardia. Sinto, embora entristecido, que este é o registo económico que encontrei e construí ao longo dos tempos e me dá a segurança, descoberta permanentemente como falsa, para me afirmar pessoal e socialmente. Critico timidamente o distante sem me comprometer e, com a facilidade e a presteza das minhas avisadas artimanhas, protejo-me de indesejáveis sobressaltos nos meus múltiplos lugares de convivência e de proximidade, quer relacional, quer emocional.

Encontro na ordem dos acontecimentos, com a agudeza que me desconforta, uma explicação para o que faço sem me dar ao trabalho de idear uma autenticidade que me torne sujeito na criação de sentido para o que faço ou devo fazer. Ordeno o corpo a ceder aos gestos para o que o tempo que me sobra nesta ridícula cessão se retire à mente, à reflexão e ao questionamento. Espero, com esta manha bem tola, que os automatismos calem as angústias do vazio e anulem a possibilidade mais do que certa do meu aborrecimento de ser o que estou sendo. Perante a opressão e a tristeza próxima desta possibilidade, decido exigir cada vez mais do gesto e da acção para suprir os espaços possíveis do insuportável desafio de criação de me pensar e reinventar.

Sendo o que simplesmente sou, sendo o que faço, evito o que antessinto ser ousadia e excesso. O tempo preocupa-me porque ele é, para mim, um elemento incómodo neste jogo de possibilidades e projetos. Reconheço, com frustração, que para uns, apesar de lhes faltar o tempo, o escasso tempo que têm não os impede de prosseguir aspirações e construir realizações. Para mim, apesar de o tempo me sobrar, gasto-o repetindo inutilmente tarefas num ritmo pausado mas rigorosamente regulado para que o tempo em excesso se esgote no tempo certo. Não tolero a ideia de que o relógio me estique o tempo pois, esse tempo sobrante, obrigar-me-ia a vivenciar um sentimento intolerável de um vazio próximo com o qual não me quero confrontar. Essa consciência perturba-me mas, a consciência dessa consciência, martiriza-me. Por isso, para me defender, faço render as muitas e variadas tarefas do e no meu dia-a-dia para que o sintoma não surja e, de um modo contundente e pérfido, comprove a inverdade da minha existência que, neste momento, não quero nem aceito questionar.

Como me diz a IDENTIDADE de Mia Couto …

Preciso ser um outro
para ser eu mesmo

Sou grão de rocha
Sou o vento que a desgasta

Sou pólen sem insecto

Sou areia sustentando
o sexo das árvores

Existo onde me desconheço
aguardando pelo meu passado
ansiando a esperança do futuro

No mundo que combato morro
no mundo por que luto nasço

É tudo, amigo. Obrigado por me teres escutado novamente. O tempo já me escasseia. Preciso de me distrair. Vou, talvez, regressar ao conforto da rotina que me aguarda... Por que não?

Um abraço.

quinta-feira, abril 14, 2011

FINALMENTE, UM HOMEM COERENTE E DIFERENTE …

 

Têm dúvidas? Não o conhece? Pois é. É ele mesmo. Artur Pereira, porta-voz de Fernando Nobre na campanha para as presidenciais, afirmou que se o médico não reunir a maioria absoluta necessária para ser eleito presidente da Assembleia da República, poderá renunciar ao mandato de deputado e ao lugar na bancada do PSD.

Em que ficamos? É simples; depois da embriaguez das presidenciais, para LEVAR A CIDADANIA À POLÍTICA é necessário, torna-se óbvio, um outro palco, um cadeirão bem almofadado e as mordomices mediáticas e públicas que a AMI não possibilita ou eticamente não pode transigir. Para tal, não é relevante conhecer e debater programas eleitorais.

 

Ele merece esta graça e outras mais …

 

O facebook de FN, naquela fase de enlevo e sedução encorajantes, acasalou bem com a astúcia, com os apoios e com os elogios provavelmente desmesurados dos seus genuínos apoiantes. Mas, o mesmo e generoso facebook de FN tem, por sorte, uma memória feita de lembranças mas não, por adversidade, a resistência dessas lembranças. E em momentos de sobressaltos de identidade, quem sente perturbada a estima de si, reage, tudo fazendo para silenciar o protesto e desterrar a indignação dos atraiçoados. A experiência da irrisão de imagens com que seduzimos os outros e conquistamos o seu respeito torna-se num peso insuportável que, sem esforço, verga com facilidade as colunas frouxas da incoerência.

Daí, com expectativa, aguardei que o previsível acontecesse. CONFIRMEM.

quarta-feira, abril 13, 2011

O “COMITÌU” DO ZÉ

 

Um Zé arrebatado e na sua melhor das retóricas, sobretudo aceitável na abertura de uma campanha onde as múltiplas sortes se jogam, para ele essencial, embora para outros, azares provavelmente pungentes se aproximam, o Zé eufórico e orgulhoso vocifera em pleno “comitìu”; este momento foi uma lição para muita gente. E, sem rodeios, pergunta que Partido Socialista é este que os portugueses puderam ver aqui, reunido em Congresso? 

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Foto do Zé em pleno “comitìu”

Antes que algum sócio petulante se atrevesse à elucidação, o Zé esclarece os cépticos e inoportunos cinzentões do costume. Diz ele; o que os portugueses puderam ver aqui, em primeiro lugar, (foi) um Partido unido. Sim, um Partido unido. Porque este Congresso foi uma grande lição de unidade. A unidade de todo o Partido na afirmação dos seus princípios e dos seus valores; a unidade de todo o Partido na defesa do seu trabalho no Governo, ao serviço do País e na defesa do seu projeto para o futuro de Portugal. Ficamos, finalmente, a saber, que as conflitualidades de outrora não passaram de caprichosos arrufos de galos e que os PEC.s sucessivos (que a partir de agora outros se associam), faziam e fazem parte desse insondável e apetecível futuro que os socialistas veementemente desejam.

Com a autoridade que todos, mesmo todos lhe reconhecem, o Zé faz ver que este Congresso mostrou também aos Portugueses que o PS é um partido com ideias conhecidas e claras. A nossa agenda não é uma caixinha de surpresas, feita de ideias vagas e de palavras vazias. Os portugueses sabem onde nos podem encontrar. Notável. Para além da insigne e incontestável verdade anunciada, que nenhum cidadão ousará, por certo, pôr em causa, o Zé metamorfoseia e verte a desfaçatez em inteligência política, requisito aliás indispensável ao reconhecimento publico do Zé como um animal da polis.

Caros concidadãos, podemos confiar no Zé. Ele promete e sempre mostrou que cumpre o que promete. Aos portugueses não faltam provas dessa honradez e probidade. Ele promete, insiste e persiste defender a promoção do investimento económico, de modo a gerar mais emprego e riqueza nacional e compromete-se, melhor do que ninguém, em tomar a defesa inequívoca da proteção social do Estado, com serviços públicos fortes, eficientes, acessíveis a todos e a todos garantindo igualdade de oportunidades. E se alguém ousa duvidar, o Zé mostra que está à altura, avisando que Portugal hoje precisa, (de) responsabilidade, maturidade política e ideias claras. Hoje. Sim hoje, porque a oposição trouxe o FMI para nossa casa…

Como se pode descortinar, os inimigos são muitos mas todos eles de identidade provada. Portugal foi arrastado para uma crise política que era totalmente evitável. Mas, o pior de tudo, os tratantes decidiram provocá-la no pior momento possível. E quem são eles, pergunta o Zé ao Zé e o Zé responde;  foram todos os partidos da Oposição – extrema-esquerda e direita - unidos numa aliança contranatura. Eles juntaram-se não para construir fosse o que fosse mas apenas por ambição de poder a qualquer custo. Toda a gente sabe que o Zé é firme e não hesita. Com a honestidade que o define e melhor o caracteriza, o Zé revela  que poucos momentos haverá em que a leviandade política e o calculismo partidário provocaram danos tão graves e tão profundos no interesse nacional. Poucos momentos haverá em que são tão evidentes as consequências devastadoras para a vida das pessoas, da irresponsabilidade e da sofreguidão pelo poder. Genial. Ainda ninguém havia dado por isso.

E o Zé não descansa e, nessa estafadela de aconselhar, acentua a importância, neste momento difícil, de uma liderança capaz no Estado e na sociedade. E liderar quer dizer ter responsabilidade, demonstrar elevação, saber propor e saber agir, apelando, preocupado com o nosso futuro colectivo, à não dispersão dos votos em partidos que vivem apenas do protesto, que se auto-excluem de qualquer entendimento e que nunca, nem no passado, nem no presente, estão disponíveis para construir seja o que for. Para espanto dos descrentes e distraídos, desta magna reunião sai, de facto, diz o Zé, um Partido Socialista novo, com ideias claras e vontade firme. Um Partido à altura deste tempo. Um Partido para servir o País.

O Zé não perde pitada e denuncia energicamente os que se escondem atrás dos arbustos, sem apresentarem as suas ideias, sem apresentarem as suas medidas e sem apresentarem as suas propostas. É  muito simples e demasiado evidente, diz o Zé: eles fogem a comprometer-se não porque estejam a pensar no País mas porque estão a pensar apenas nas eleições! Sim, agora sim. As coisas começam a ficar mais claras e a nobreza de carácter do Zé definitivamente convence. Pois bem: chega de aventuras, chega de jogar às escondidas, chega de irresponsabilidades. O momento exige elevação política e sentido de Estado. E para o pasmo de alguns, os menos avisados, o Zé repete: o momento o exige elevação política e sentido de Estado.

O Zé está aí e os portugueses podem estar seguros. Encontrarão o PS, sem olhar a outros interesses que não o interesse nacional. Mas o Zé mostra-se, como sempre, compreensivo com as inquietações das gentes legitimamente preocupadas. Partilho inteiramente esse vosso sentimento, reconhece, mostrando-se irritadissimo com a crise internacional que atingiu duramente a economia portuguesa e fez subir o desemprego e tornou a vida mais difícil para muitas empresas e para muitas famílias e que a sede de poder de uns quantos acrescentou à crise económica esta irresponsável crise política.

Mas o povo, previne paternalmente o Zé, deve perceber que não é tempo para ideias perigosas, nem para desvios por caminhos arriscados. O tempo não é de rupturas nem de cartilhas ideológicas radicais. O tempo é de garantir o essencial: garantir segurança às pessoas, garantir segurança às famílias. O FMI, gente que o Zé diz não tolerar, tem de ser combatido porque o País não se pode dar ao luxo de interromper o caminho que está a ser percorrido. Nos três primeiros meses deste ano, a despesa pública baixou, como nunca tinha acontecido e a receita aumentou. O défice, por isso, caiu.

Se dúvidas houvesse, a mensagem do Zé tranquiliza-nos. Estamos a caminhar bem e o Zé, responsavelmente, apela à nossa confiança porque é tempo, agora, de enfrentar mais esta dificuldade, este cenário de uma ajuda externa que os Portugueses não mereciam e que o PS tentou evitar a todo o custo. Mas os Portugueses contarão mais uma vez com o PS e o seu Governo. Mas, de repente, uma dúvida me sobressalta; como entender que para levantar o Partido Socialista tenha havido necessidade de uma oposição irresponsável ter feito cair o Governo? Por muito que não queira, tenho que reconhecer que esta declaração será provavelmente a única contradição que suspeito existir no discurso brilhante e sincero do Zé …