sábado, maio 04, 2013

A TRAGÉDIA DO EURO ALEMANIZADO

grécia_crise_euro_tragédiaAo contrário do que nos pretendem persuadir, a nossa fundada desgraça coletiva volve-se a 1991 com o reverente e bajulador amém, dos nossos regentes, ao exaltado Tratado de Maastricht. Num quadro crítico (histórico e político), marcado pela derrocada e implosão da União Soviética e a consequente unificação alemã, os jogos de poder no interior da Europa atraíram supletivos amanhãs naturalmente cultivados por arteiras engenhosidades e ideológicas oratórias. Como era imaginável, a favor de uma Alemanha reunificada, em desabono de um Mitterrand pingão e com o conluio “babaca” e servidiço dos demais.

Neste enredo de predominâncias, a moeda única não deixou de escorar a hegemonia alemã ao tolerar-se, para além da imposição do peso da sua moeda e do vigor do seu poder económico e demográfico, a germanização em ganho próprio das condições institucionais da sua implementação. A reclamação de uma política monetária única, de uma gestão orçamental comum e de uma forânea dívida pública mais não é, no seu todo, do que uma embuçada e clandestina federalização europeia. Tudo isto, emparceirado com a doutrina neoliberal, a autoridade e independência do Banco Central e a consequente submissão aos mercados financeiros, esclarece-me em grande parte o desmedido desastre europeu e a enorme tragédia dos seus elos mais fracos.

Reforça-se, deste jeito, neste tempo civilizacional destituído de esteios morais e culturais e enlodado em ressaibos, invejas e temores, que gente abjeta e demagoga explore as consequências atuais de generalizado amedrontamento em proveito dos seus desígnios próprios e mesquinhos de classe. Gente que não está interessada em dar dignidade humana e social às soluções, gente que governa sem ideias próprias, gente que se serve da injustiça para manter um clima de falsidades e odiosidades fazendo de alguns, fria e cinicamente, os bodes expiatórios das agruras coletivas. Gente aliás que rasga de um dia para outro as promessas, engana e atraiçoa sem pejo os cidadãos e deita mão, presentemente, a um deplorável populismo para manter um poder (em si) já ilícito, procurando com a aleivosia do costume engodar as suas vítimas incautas e atormentadas. Pergunto-me; até quando aceitaremos que a nossa liberdade e as nossas vidas dependam da obscena liberdade dos mercados e desta gentalha politiqueira que os assiste?

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