quarta-feira, setembro 18, 2013

POBRE … MAS HONESTO

1238251_685627221465822_1375404853_nEste homem chama-se Glen James. Um sem-abrigo americano que saltou para o palco mediático porque, ao encontrar uma mochila num centro comercial contendo 42 mil dólares em dinheiro e cheques de viagem, entregou o achado a um carro de patrulha para que a polícia o pudesse devolver ao seu legítimo proprietário. Um comportamento louvável que a RTP, no noticiário que acabo de presenciar (18SET/13horas), em nota de rodapé considera – exibindo Glen James – de “POBRE … MAS HONESTO”.

Ao noticiar naturalmente outros percursos e comportamentos de gente honrada como Dias Loureiro, Duarte Lima ou Oliveira e Costa (entre outros) não dirá, com toda a certeza, “RICOS … MAS DESONESTOS”. A RTP, na pessoa do responsável por este lúgubre padrão de destrinças, decide subliminar e desaforadamente as exceções. Ou seja, no universo dos pobres, alguns (poucos) são exceção. No mundo dos ricos tudo é gente honrada, havendo apenas dúvidas sobre uns tantos que os tribunais, em devido tempo, clarificarão.

Conclusão: na RTP há gente execrável, ideologicamente trapaceira e intelectualmente sem pingo de vergonha. O mínimo que se exige, em nome dos direitos e deveres de cidadania, é que o(s) responsável(eis) se retrate(m) no respeito por um serviço público que se quer íntegro e humanamente sadio.

terça-feira, setembro 10, 2013

A CANALHA ENVINAGROU-SE

irritado_thumb40É por isso que os nossos semeadores de cizânia e de “revolução”, da força, de uma sociedade dúplice em relação aos contratos que cumpre ou não cumpre, deviam ponderar nas palavras que originaram o pequeno escândalo, habitual nas redes sociais, vindas de um jovem deputado comunista que ainda não aprendeu a “linguagem de madeira” dos comunistas actuais: “A corja que despreza a Constituição que se ponha a pau. É que se o meu direito à saúde, educação, pensão, trabalho, habitação, não vale nada, então também os seus direitos à propriedade privada, ao lucro, à integridade física e moral deixam de valer! E nós somos mais que eles”, escreve Pacheco Pereira no Público do passado dia 7 de setembro.

Pelo que se diz, e Pacheco Pereira atesta, muitos engravatados da suposta elite supostamente bem-pensante não gostaram e bramiram a sua indisposição fazendo uso do apoplético insulto perante uma ideia que os aporrinhou dada a vernácula mas decidida linguagem – aliás, historicamente abandonada ao povo – que permite à “arraia-miúda”, pela genuinidade que a caracteriza e sempre que o antagonismo exige, frustrar – pela transparência – as disputas de sentido que tanto recreiam, em proveito sempre próprio, a discursividade da nata social, dominante e exploradora. Como bem nos alerta Bourdieu, a luta pelos direitos (de classes ou de grupos) não se consome nos limites dos bens materiais mas adentra-se braviamente no mundo dos bens simbólicos.

É neste contexto, bem atual e descoroçoado, que Vitor Malheiros[1] acusa o “sonho” neoliberal pela persistência desapiedada – que nos traz tão inquietos quanto despertos – (da) desvalorização do trabalho, (d)as descidas dos salários, (d)os despedimentos, (d)o aumento de impostos e (d)o empobrecimento geral da sociedade [que] têm [no fundo e como indubitável objetivo] … reduzir os salários até ao ponto em que os trabalhadores se vejam reduzidos a uma quase escravidão. Ora quando o homem real – e não “um qualquer homem abstrato” – vive um verdadeiro problema de relação com a sua existência, num estado de progressiva injustiça e indignidade, é vital que ele se bata pelo seu lugar na sociedade. Juntamente com outros, e com toda a legitimidade, podem e devem sonhar com uma outra sociedade, renovando, porventura, a sua própria e triste história. Não me espanta pois que a canalha – supostamente elite, supostamente bem-educada e supostamente bem-pensante – perca o verniz e repudie histérica o jovem comunista que, pelos vistos, ainda não aprendeu a “linguagem de madeira”


[1] Artigo de opinião intitulado “A escravatura como forma de combater o desemprego?” (Público, 10set2013)