domingo, novembro 30, 2014

VASSOURAR A BANDIDAGEM – UMA OBRIGAÇÃO DE TODOS NÓS

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Já não suporto escutar nem ler os igrejeiros que, embarricados na desarmonia dos seus desesperos tribais, esparrinham ódios dos telúricos lugares das suas cegas paixões. Mais do que se excreta, fica a estéril certeza da conturbação caótica dos ânimos que, dos dois campos da adversão, ulcera o lastro mútuo das animosas arremetidas.

Não obstante, a hediondez do espetáculo da corruptela aformosear a monstruosidade que a agiotagem obstinadamente apresenta da figura do Estado, a trágico-comédia, há largos anos em cena, revelou-se estética e gradativamente aprimorada quando os regedores, como corruptos, se tornaram atores e, enquanto regentes, apenas meros figurantes.

Neste tempo de sérias perplexidades, de expressiva fragilização das estruturas políticas e das instituições do Estado, da desvalorização do trabalho e do retrocesso civilizacional e jurídico dos direitos das pessoas, apraz-me aqui sinalizar e evocar, neste brevíssimo desabafo, D. Helder da Câmara, bispo do Recife, citando-o: “Quando alimentei os pobres chamaram-me santo; mas quando perguntei porque há gente pobre chamaram-me comunista”. Pois é…

O proxenetismo vagueia por aí, sobretudo bem escondido nesse alienante lamaçal onde a cultura da bandalheira política e ideológica coabita em lúbrica e silenciosa comunhão e proveito com o ladro mundo financeiro das negociatas. Doa a quem doer, faça-se Justiça e com esta se contribua para o acesso reversivo ao enobrecimento da Política, à qualificação da Democracia e à humanização da Vida das pessoas. A promiscuidade apontada e a corrupção anunciada – e não propriamente o Estado – constituem hoje o verdadeiro monstro que desnatura as nossas intrincadas existências. Torço pelo sucesso do Direito sobre a Política no que concerne à impunidade dos poderosos. Ponto final.

quarta-feira, novembro 19, 2014

DÓI ESCREVER

a-magia-da-escritaHá uma incomum indolência que me trava as ideias e a escrita que delas pode cuidar. A sentida vulgaridade dos meus desassossegos desponta em mim o desprazer intimidante da banalidade. A sinceridade sinto-a insuficiente e a vontade da autenticidade – essa inseparável e dolorosa incitação – esgota-se na incessante busca da alteridade que a ilumine. As procuras permanecem desmedidas e os retornos continuadamente estreitos e frustrantes. Aflora-se-me o desconforto da falha e afadiga-me a amarga frieza do desabrigo. A mentira que me recolhe é a mesma que, desgraçadamente, me oferece a sua pérfida aleivosia. Os caminhos percorridos, traçados pela difusa indiferença, não me levam ao acolhedor lugar do autêntico. Sobra-me assim os atalhos que tenteio e que aos poucos vou penosamente desencantando. Confiante num esperançoso desconhecido, aguardo que este não me amuralhe a experiência do possível. Naturalmente acompanhado com aqueles que, arrastados pela mesma inquietação, se disponham a afrontar as raias irremovíveis do exercício fecundo da alteridade. Gostaria de ser, e não apenas acreditar ser, para comunicar com verdade e autenticidade. Nunca se sabe se um dia o mito acontece e eu poderei assegurar que por ser, deixei de ser o que era.

sexta-feira, novembro 07, 2014

VOLTANDO AO TEMA DA FALSIFICAÇÃO DAS CLASSIFICAÇÕES ESCOLARES

foto_indexAo meu amigo Sérgio, a quem prometi uma resposta mais fundamentada sobre a minha postagem de 20 de setembro, intitulada CONTRABANDO OU APENAS GENTE DE MÁ NOTA?

Começo por apresentar ao Sérgio os meus cumprimentos e, junto com estes, as minhas desculpas pela demora da resposta há muito prometida.

Amigo Sérgio; sobre o tema em causa, expresso através de um texto necessariamente telegráfico (escrito de e para um blogue, logo curto, ao qual se fez acasalar um tom deliberadamente jocoso), muitas interrogações seriam possíveis e passíveis de serem colocadas, não só por estas características que acabo de mencionar como também, e sobretudo, pela complexidade do próprio tema.

No essencial, o que procurei ironicamente condenar foi o publicado espavento (e não propriamente o pasmo público) sobre os condenáveis comportamentos das instituições escolares no que às avaliações dos alunos diz respeito. E isto porquê? Porque os hosanas cantados aos celebérrimos rankings empalmaram, na altura e sem pinta de embaraço, a natureza diversa e intrinsecamente complexa da realidade educativa, fabulando a batota da homogeneidade (social, cultural e economicamente dizendo) sob a regência da batuta axiológica da justiça, orquestrando uma peça musical melódica onde o mérito se tornou o mote. Daí que, o espanto revelado atesta, para mim, uma de duas coisas; ou credulidade insciente ou tão-só ciente má-fé.

De uma forma sumária, passo (no entanto) a elencar apenas três dos tópicos (provavelmente os mais estruturantes) que sustentam esta minha perspetiva crítica, não entrando sequer na arquitetura matemática dos resultados que, pela sua conjuração, constrange as instituições escolares às inclassificáveis manobras, umas movidas por uma patética sobrevivência, outras catando, como convém neste mercado da educação, um prestígio indevido:

1. De uma forma geral, os rankings, nos seus múltiplos (e alguns verdadeiramente carnavalescos) campos de serventia, constituem um implemento precioso (deste impiedoso capitalismo neoliberal) que tem por função amamentar (leia-se, dar de mamar) a uma interminável e meliante concorrência (competição), justificando-os (os rankings) com base na suposta relevância social (diga-se, sistémica) das seriações daí decorrentes;

2. No domínio da educação, para além deste transversal tormento ideológico, os rankings escolares sofrem de algumas (outras) sérias e preocupantes distorções pois o processo escolar institucional, ao envolver a irrevogável responsabilidade ética da formação e do desenvolvimento de todas as crianças e jovens, faz com que seja da mais elementar honestidade e justiça ter-se (seguramente) presente que esta incumbência se inscreve num campo fortemente marcado pela diversidade (individual e sociocultural), ao qual acresce uma realização que se efetiva também e igualmente em contextos dissemelhantes e compósitos no que toca aos recursos, designadamente físicos e materiais.

3. Deste modo, neste quadro incontornável de assimetrias e desigualdades, desconsiderar as histórias autênticas que, sempre intrincadas e multifacetadas (e existindo massivamente), reclamam a (cons)ciência da diferença, da sensibilidade e da aceitação – feita de penosos diagnósticos e de engenhosidades incertas, eticamente persuadidos da certeza das necessidades das crianças e dos jovens – não posso deixar de perguntar; como se pode garantir, neste lôbrego e sectário espetáculo da simplificação, rigor na avaliação do que nas escolas se faz se não através de uma dramática invencionice ideológica assente numa colossal mentira social e institucional?

Termino, invocando aqui Bento de Jesus Caraça que não comparece, nestas circunstâncias, como tu podes imaginar, por acaso. Para além de constituir uma referência bem presente no espírito crítico que trespassa este escrito, foi ele que no, plano institucional e simbólico, nos aproximou. E ainda bem.

Um abraço amigo.

quarta-feira, novembro 05, 2014

NÃO DISPENSEM O PENICO A TAIS VÓMITOS

merkelA soldadesca portuguesa de licenciados, em número de 17%, torna-se – como se pode amavelmente aperceber – uma inutilidade terrificante frente à talentosa hoste pensante alemã dos 25%. Apesar da discrepância dos números, a embevecida gnose merkeliana enxerga nesta risível desproporção um espavento que este país de gente bruta e grosseira não merece. A saloiice da arte é simples; faz-se sobressair uma relação improvável (o desemprego como consequência de muito saber desacertado) para dar forma e sentido a uma lógica que à problemática (do desemprego) acrescenta ficções e nunca soluções. Como nos diz hoje[1] Ferreira Fernandes, a Angela veio a Portugal falar para os seus, bolçando: “Com essas ilusões das universidades, os cafres não andam a mandar os serralheiros de que vocês precisam”. Estes indómitos alemães há muito que empurram as suas fronteiras geográficas para as raias dos seus esganados interesses. Este regurgitar é histórico e, por isso, evocar o sentido da história não faz mal a ninguém, sobretudo às suas costumeiras presas.


[1] Diário de Notícias (5 de novembro de 2014)

Imagem retirada DAQUI