sábado, dezembro 27, 2014

AS ONDAS PANTANOSAS DA INDÚSTRIA DA CONSCIÊNCIA

O-que-e-Industria-CulturalO atual pântano ideológico (que nos sitia) proclama o princípio supremo da livre competição, no granjeio sempre diversamente materializado, como uma condição medular à realização do bem-fazer coletivo. Como consequência, admitir e encalçar o desígnio do interesse comum torna-se, nesta imaginativa lógica, num cogitar fossilizado face à demanda do bem-conceituado sucesso individual e dos valores que o ratificam. Por vezes, quando a circunstância se oferece e se enfrenta o tema, as críticas dos presentes a uma tal premissa logo se rateiam entre o vanguardismo acusativo da retrogressão e a vigilância sarcástica do radicalismo revolucionário.

Os situacionistas, gente bem instalada e uma outra aparvalhada que se julga aí hospedada, de imediato se esquivam a malbaratar o seu suposto e aburguesado valor social, sempre superficial e quase sempre contrafeito, e corporificado por trás da lídima ostentação ou da mimetização burlesca da sua arquitetada aparência carnavalesca. No quadro desta sucinta sinopse, estes situacionistas, sobretudo os aparvoados, encanzinam-me porque, perdidos nas veredas da moda e dos seus modismos, pela estreiteza ou lateralidade destas, não enxergam o que vale pensar e discutir e, como nos alerta Kurz Robert, alegremente gastam o seu tempo crítico a surfar as ondas pantanosas da indústria da consciência. Nestas águas, as da consciência, procuro não ser cândido e muito menos indiferente. Assim sendo, tal agastamento não abocanha a tenacidade do meu enraizado inconformismo.

quarta-feira, dezembro 17, 2014

REMEMORAR O PASSADO

img_218933501_1378452103_abigSeriamente penso que as memórias transfiguram sempre o passado. O tempo e o momento dispõem a alma a uma ficção apropositada. Parafraseando Dupuy[1] diria que a causa é [nestes casos] posterior ao efeito, [pois] o motivo da viagem é uma das consequências da [própria] viagem.


[1] Citado por Slavoj Zizek, em “VIVER NO FIM DOS TEMPOS”.

NO ÍNTIMO DA PANTOMIMA ELEITORAL

20120302_mimosA enunciação discursiva de bondosos princípios é a característica que mais brilha no intuito do encantamento, embuçando (vezes sem conta) a inteireza doutrinária de sorrateiras razões convertidas em meritórias convicções. Os princípios invocam o prestígio da universalidade e o fraseado judicioso que os escoltam outorga-lhes credibilidade, tudo acontecendo em simultâneo com o resguardo da dosagem de antemão acertada, que na sequência do todo, legitimará as inconsonâncias do que se propõe empreender. É no acinzentar deste resvalo que o discurso político (e não só) se posiciona e se disputa concorrendo para a sua apostada e eficiente opacidade. A acareação eleitoralista, já em tempo de crispada profusão, espelha com uma cristalinidade espantosa aquela dissonância e, sobretudo, desvela a sua natureza rasteira, fingidiça e impudente de pura aliciação e caça ao voto. Aqui, em particular, a aplicação ética do cinzento não combina.