domingo, setembro 27, 2015

… as fragrâncias deste PORTUGAL À FRENTE

 

Bad smell emoticonArremessam mais números. Quantos mais, mais ajuizado. É importante consumir o espaço público com números. Os da economia e uns outros que repincham da proficiência acurada das sondagens. Não permitam vazios disponíveis para questões menores. Mormente para a política e seus sucedâneos palpáveis. Pobreza, precariedade e desigualdades são minudências que atarantam o essencial. Como tal, escusem-se delas. Convém, isso sim, é cuidar do sentido de responsabilidade – sem deixar de porfiar o ámen continuado dos coligados mediáticos – ora atemorizando, ora socorrendo-nos dos poderes da fé. Apesar disso, ajuntem ainda distrações coloridas, para além dos jogos aritméticos da adivinhação, muitos outros acessíveis (no mercado) ao propósito das agenciadas sensatez e juízo. Rivalizar emoções dá uma espécie de tusa competitiva e de euforia clubística que nos abeira da superfície túrbida da contenda futebolística. Aí, sentimo-nos em casa, embora impacientados e (provavelmente) raivosos, mas, finalmente, hábeis e sabedores. A pós-política no seu melhor. O mexilhão que se feda. O lugar do mau cheiro é na sujeira da rua. Esse lugar não faz parte destas fragâncias. Deste jeito, viva Portugal À Frente sem estes pestilentos moluscos.

sábado, setembro 26, 2015

NÂO PERDOES, MAS ESQUECE

 

7919603_fyW3sHá fórmulas convencionais que eu recuso. Confesso que elas já me acudiram perante outros que igualmente as consideravam. “Perdoar mas não esquecer” é uma delas. A coligação PaF não perdoa nem esquece, em 2015, o tempo de 2011. Esta época negativa, sobremaneira reavivada, torna apenas supletivo o tempo que as separa. Num outro plano (e escala), diria que, embora me encanzine com facilidade, a ideia vangloriosa do perdoar é-me repulsiva. A arrogância que procura a humilhação do outro não me merece apreço. Aprendi com o tempo que a arte do distanciamento fluidifica a emoção e irriga a lucidez. Desta destreza, assenta o salubre sedimento que não pode adormecer. Todavia, as inverosímeis sondagens parecem assentar num estranho mas inovador preceito; “não perdoem mas esqueçam”. Sobretudo, no dia 4 de outubro, não perdoem mas, por favor, esqueçam o mal que, por causa de outros, não pudemos evitar de vos fazer. Nestas circunstâncias, e ante tal trapaça que a inversão da fórmula mascara, o saudável sedimento que em mim desperta, em voz ironicamente serena, consente-me sussurrar; “é preciso ter muita, mas mesmo muita lata!”.

 

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quarta-feira, setembro 23, 2015

A FATALIDADE DO DIA SEGUINTE

 

2015-09-05-eleicoes-votoO valor do voto no SYRIZA, em janeiro de 2015, aparenta hoje não ter contado para nada ou, na melhor das probabilidades, para muito pouco. Notoriamente, em face da insolente aventurança do sufragista grego, o casto e atilado EUROGRUPO não podia, com soberana razão, ficar quedo. Com base nesta usurpada autoridade, sentenciou que os displicentes helénicos, mal acostumados às deleitosas perambulações pelas azinhagas da democracia, neste contexto pretextado como positivo, faziam jus a um proporcionado e merecido escaldão. De facto, marotear à fartazana augustas eleições, acrescidas logo de uma afrontosa celebração pública de safadice, a ingratidão para com os esmoladores tornou-se irremissível e, por conseguinte, não podia nem devia ter a menor absolvição.

Como corretivo, o dito EUROGRUPO, intimou os vitoriosos a auto notificarem-se pública e aplicadamente perdedores. Tudo em nome da excelsitude da ordem europeia da finança, da transparência, do cálculo e da rédea. Transparência que, a este respeito, pois então, significa a responsabilidade acordada segundo a lógica de uma caminhada atrás franqueada e dum presente disponibilizado e condizente com o transato. Aliás, concerto que, em absoluto, não autoriza a qualquer um repensar destinos nem urdir acontecimentos.

A democracia já não é o que valia. Tem de se limitar à coibição funcional contraída com essa ordem inusitada de dita transparência. Assim sendo, não se admitem aventuras que desaceitem a compreensão e a concordância dessa obediência, aqui e ali discursivamente enroupada, como faz o nosso PS, de recatadas incompreensões e imprecisas divergências. Entulhado neste amontoado de escombros, o PS implora confiança ao mesmo tempo que a vacilante voz obsecrada o atraiçoa. Ganhe ou perca as eleições, a sua história futura definir-se-á no dia seguinte, ou seja, nos tempos imediatos que naturalmente se sucederão. Apesar de tudo, com algum recato, fico a fazer figas para que o povo não recidiva no delito abonatório da infame inclinação de 2011…

sábado, setembro 19, 2015

A LUTA PELO VOTO DA CONFRARIA DOS OTÁRIOS

 

18306486_1nQ9cContrafazendo outrem, em favor do voto do arremedo apregoado, algumas cruzadas eleitorais mostram-se habilmente distorcidas face à realidade e aos dogmas que a escoram. Para tal, fazem equivaler a disputa política a um banal clássico desportivo e, em suposta concertação, do cidadão apenas buscam (e requerem) o seu costado lerdo de homem ludens.

A agiotagem cínica e petulante que se sacode pelos media, sabe bem, e em benefício próprio, aliás sempre mais funcional, cobiçosa e calculista nestes resolutivos cenários, explorar o emocional como matéria-prima. Empenha-se, para tanto, em subtrair à racionalidade o valor crítico da objetividade e, com o jeito industrioso que (afinal) a incrimina, colocar o velado a favor da circunstancial e volátil subjetividade.

Os poderes enredados no conluio deste profícuo paradigma, marcado pela talhada e desejada pré-reflexividade, pressupõem perfeitamente o que em comum lhes interessa, e sabem, melhor do que ninguém, como fazê-lo desaparecer em encarrilada forma de polémica, ganhosa para ambos. Procura-se, acima de tudo, que a substância se volatilize em emoção e que esta cumpra o seu dever de controlo ideológico sobre o cidadão desprevenido.

Como sou um indolente cismado – aliás próprio de um racional bem consciente do pecado da emotividade que, frequentemente, se lhe entorna – preciso de tempo para acompanhar a tartufice deste tipo de comunicação intencionalmente célere e invasor. Sobretudo, quando pressinto que, não sendo fácil policiar o pensamento, procuram torná-lo superficial e, como tal, presa dócil da inércia ideológica vigorante.

No entanto, jogam a favor da minha absoluta desconfiança, a vigilância atenta sobre o tempo passado, o reconhecimento da sucessão e permanência dos problemas e o escrutínio da isonomia cristalizadora dos comportamentos políticos de quem nos têm governado. Deste modo, para alinhar nessas cruzadas de apoio e reafirmação a esses poderes (sejam eles, nacionais ou europeus), teria de destruir memórias que me fizeram o que sou. Seriamente, não me vejo tão otário assim para me revogar tão imbecilmente.

 

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quinta-feira, setembro 17, 2015

O ONDE E O AONDE DO FUTURO

 

fotografias-artisticasSinto-me bem neste lugar. Logo, experiencio agrado ONDE estou. Se não estou bem, sobra-me uma resposta certa que, por si e de imediato, arrasta consigo uma pergunta; mudo-me, seguramente é a resposta; para AONDE? a pergunta de igual modo certa para uma resposta, todavia, incerta.

ONDE e AONDE, ambas preanunciam lugares. Porém, é obrigatório atender às diferenças. ONDE nomeia o lugar onde estou e, provavelmente, me sinto bem. AONDE, ao comunicar uma noção de movimento, significa deslocamento, por consequência, mudança para um outro lugar.

Neste quadro eleitoral, onde se instala o ONDE e o AONDE das nossas opções? O ONDE acomoda-se, por certo, na resignação, tolhido pelo medo e pelo artifício da ausência de alternativa. O AONDE abraça o inconformismo, irrita a camorra europeia e faz, com toda a certeza, saracotear a história. Por mim, voto AONDE, voto FUTURO, dignificando, com total liberdade, o meu VOTO.

 

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domingo, setembro 13, 2015

AS SOMBRAS METAFÓRICAS DA UTILIDADE

 

debate-passos-costa02_770x433_acf_cropped-1Passos Coelho e António Costa cumpriram a costumeira liturgia de evangelização eleitoral. Ocuparam, sem qualquer pejo democrático, um desmesurado e condensado espaço mediático decididamente aprontado para a eficaz reprodução inventiva da universalidade hoje ficcionada e talhada à regulação vigorante da presente hegemonia ideológica do euro. No “bate-boca”, cada um a seu modo, esgueirou-se da tirania dos incomplacentes instrumentos da dívida e dos ajustes orçamentais. Em síntese, o primeiro, contente, fingiu-se contristado; o outro, contrafeito, paliou a conformidade.

Assim, Passos, enredado e equivocado por números desarticulados, descobriu-se empurrado e encurralado na sua abrupta e enfezada defesa, tanto mais desordenada quanto acreditável, para ele, da sua superioridade e do suposto mérito do seu argumentário. O seu discurso sobre o futuro, escorando-se somente na inoculação do medo, tornou-se sombrio e desalentador. Apesar disso, e perante esta inesperável inépcia do oponente, sabendo vencer mas não convencer, Costa não foi capaz (ou não quis) ganhar definitivamente o país. Esmolando amiúde confiança, não arredou dos cidadãos votantes a arrastada suspeita sobre o seu projeto de futuro. A sua fala, nem uma vez só, transpôs com clareza as raias do liberalismo que diz rejeitar.

Prisioneiros de uma ordem que não adversam, por conveniência ou fraqueza, remanesceu-lhes (tão-só) os artifícios retóricos saturados de significantes que emprazam sentidos espúrios, marcados pela inanidade ética e social e pela sua consonante indeterminação, ou mesmo, indistinção política. Do PSD e do CDS nada se aspira; a ordem serve-lhes e eles piamente tratam de cuidar dela. Ao PS, auto situando-se no campo da esquerda, exige-se bem mais; importa esclarecer contra quem ele se organiza (ou vem organizando), tendo em conta a luta política que se impõe empreender nestes tempos complexos do neoliberalismo globalizado. A utilidade do voto depende desta inadiável aclaração; só depois se pode saber a quem serve o voto e o que ele pode representar na rotura necessária - não só imediata mas também na sua previsibilidade histórica - a favor da inscrição inequívoca da equidade e justiça no âmbito do desenvolvimento social do país.