sábado, novembro 28, 2015

NÃO ESPERE. TENHA ESPERANÇA. CAMINHE.

 

caminharSem dúvida, a vida é uma longa viagem. Todos os dias se chega a algum lado, mesmo que de tal não haja nota consciente. Porém, uma coisa é certa; no dia seguinte, é deste ponto de chegada que partimos. Desejavelmente, procuramos nós,  por novos (ou diferentes) caminhos, com a certeza do desejo de viver novos ou renovados incitamentos. A esperança alenta-se, nesse puro presente, não só do possível inesperado de entre as possibilidades que escapam ao tirânico do impossível, como da vibrante força de relação que, com aquele, intentamos estabelecer. Quando nada se espera, o vazio que fica, será, não o resto, mas o essencial da substância do nosso melancólico desespero. Enfim (…) a Vida por aqui passa, por esse caminho da esperança que se faz, inevitavelmente, caminhando e não (des)esperando…

 

ALMA VIAJEIRA

Daniel Lima

 

Aonde irás ter, perguntas,

se de novo tiveres de seguir outros caminhos

no fim desses caminhos já seguidos?

Aonde irás ter?

Que adianta perguntares, agora alma viajeira?

Não o saberias nunca.

A estrada chama, a alma chama,

os pés chamam, a vida chama.

Andar, sair, caminhar sempre,

é isto o que tens de fazer, eterno peregrino,

e é o que sempre em agonia vens fazendo

na insatisfeita busca de ti mesmo.

Vai, pois, sem nem saber aonde caminhas.

Anda sem de roteiros indagares,

que o mistério da vida, que a embeleza de vida

só se dá, gratuita e plena,

a quem, andando sempre, ama a viagem,

porque a viagem é a estrada

e a estrada é a Vida

   

domingo, novembro 22, 2015

O PRETO E BRANCO DO POVARÉU ABURGUESADO

 

mm (1)O exibicionismo social, por si, seja de que natureza for, e tome a forma que tomar, não me abespinha de todo. Pelo contrário, higienicamente acarreia a diversão e o desafio críticos da minha curiosidade em ler e alcançar o social que, o tal suposto e estulto alarde, se esforça por mascarar e acobertar.

O que se apresenta por fremente cálculo e se deseja imediatamente atrativo e visível, acidenta (sim) o meu olhar. Não o escondo. Todavia, esse olhar, já calejado e prevenido pela experiência da trapaça, aliás sempre solícito, protege-me a alma das factíveis e insensatas comoções.

Vagabundear por muitas e diversas margens e baldios, sociológicas e culturais concretas, ajuda. Pode despertar ecos e rumores de vidas suspeitas e incomuns. Sim, pode disso ter tudo, alguma coisa, um pouco apenas ou nada mesmo. A ânsia de descobrir eiras, por vezes sem beiras, difere a melosa arrogância da lição que se tem pressa em dar, tal como refreia a ufania da urgente e impaciente censura que ousamos para nos convencer e confortar.

Todavia, a vantagem maior não é a lição apressada nem o soberbo julgamento a tempo evitadas. A utilidade superior é o arrebatamento pelas descobertas que se fazem ao adentrar nos submundos do silêncio, da ocultação e do ilusório desperdício, esgueirando-se ao iníquo convencionalismo que se fecha na sua linguagem e, humanamente, nos circunscreve e diminui.

A crítica paciente e argumentada, por que da vida ela é arrancada, toma assim o lugar do juízo ao alcance da mão, sempre cómodo e fácil. Ainda bem que assim é, pois há um senão, um impiedoso senão neste juízo ali pronto, enraizado nas difundidas fórmulas dos modelos reinantes; ele traz-nos, embora aconchegados, exilados em desterrados repousos onde a liberdade nos mente e o temor nos acomoda.

 

Imagem retirada DAQUI

domingo, novembro 15, 2015

O DECISIVO E O DISPONÍVEL, A SOCIEDADE E O CIRCO

 

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Neste tempo higiénico de acareação política (e atipicamente argumentativo), os comissários múltiplos desta ordem marcada por um tempo carregado de quatro e vagarosos anos de radicalidade da direita, com a aquiescência da burocracia europeia e reforçada (esta) pelos seus artífices da finança mundial, não toleram a rejeição (esta ou outra) ou, mesmo, a simples e cândida divergência. As desafeições, as improvações, a blasfémia e as excomungações tornam-se a costumeira sentença desse credo (e crentes) que não autoriza (autorizam) que se coloque em causa o exclusivo da sua verdade, aliás, repisada e insistentemente escudada pelos paroquiais e mediáticos contratados de serviço, em esmerada solidariedade reflexa das vozes de controlo remoto que do exterior se fazem perceber.

O ideológico espetáculo confessional aqui e hoje exibido (2015), bem próprio de sociedades medievais, garantidas por uma forte e pespegada afeção religiosa, nem o disfarce de um qualquer operativo efeito descomprometedor é esgravatado. Se dúvidas houvesse, Passos Coelho, na sua histriónica erupção, feita no obsequioso abrigo laranja, apontou ao que vinha e, sobretudo, o que foça (e foca) trapacear. Arrisca na esperançosa invulnerabilidade das vigências coletivas das crenças, acalentadas pela suposta segurança ontológica assente no propósito da continuidade da insubstituível regência (e domínio) e no óbvio e natural convencimento daí resultante. Assim sendo, convencer, vencer e aprisionar é o jesuítico alvo perseguido. Mas, felizmente que a sociedade não se delimita a esse efúgio circense e aos seus entusiásticos circunstantes.

agem retirada DAQUI

sábado, novembro 07, 2015

PRIVANÇAS

 

cc_20140619_550x365_01Não tem temeridade para dizer o que pensa? Reserve para si o abrigo, sempre reconfortante daquela máscara, embora demasiado vulgar e banal, de uma pobre espécie de "iminência parda", (aliás estupidamente inteligente, aviso, pois quem consigo convive percebe o seu suposto proveito), metamorfoseando-se num arlequim tarouco que acredita, pela sua suposta elegância e recato, nada pesar no que se recita. Num outro enredo, de cariz mais religioso, faça-se uma risível "múmia do presépio", pois com o seu ar angelical e silencioso, mais do que aos outros, sobretudo convence-se a si próprio. Não lhe será difícil, deste modo, viver iluso (mas "feliz") no seu engasgado e desabitado mundo.