terça-feira, junho 06, 2017

CHEGOU O TEMPO DAS VERDADES INCONVENIENTES. E A CORAGEM?


Abrolhado eu nas entranhas de um tosco tempo de ignorância, aí duramente devassado pela presença autoritária da crendice e do medo, estremecendo com os decididos assertos de escusos confessores (aqueles de sotaina e outros de diferentes batinas) ou, apenas mesmo, tristemente intimidado com os seus circunspectos, embora ávidos e abelhudos movimentos, sendo esse um passado distante, apresenta-se-me ainda hoje, esse tempo, um tempo de doídas sobras de infindáveis e múltiplas memórias, se bem que algumas de apreciáveis experiências, perduráveis conquistas e, quiçá, muitas outras de lamentáveis impulsos ocasionais.

Recordo ainda, quando fora de portas, digressoando em tempo de férias pelas profundezas da rusticidade das nossas terras e aldeias, o mundo parecendo-me outro, àquela memória incorporara-se afinal uma outra, sem dúvida mais meândrica, forjada na alma de um sentimento de liberdade traído, dado que laboriosamente a circunstancial alforria se me exibia mutilada. Reporto-me àquela outra biografia entontecida por misteriosas histórias repisadas de feitiços e de magias, de bruxas e de endireitas, levando-me a adolescer numa andança em que o permanecer, afinal, se fizera à custa de uma arte de viver em incessante e obstinado risco, porventura até mesmo ascético, na genuína e humana busca de me tornar sujeito da minha própria verdade.

Com o tempo, desfez-se esse tempo da crença assujeitada à conveniência espúria das verdades decididas, passando a escutar o vozear dos possíveis, que das sombras dos seus silêncios, neste meio-tempo, se faziam e ainda se fazem ouvir. Assim sendo, terá chegado finalmente o tempo das minhas verdades inconvenientes? Provavelmente. Tenha eu agora a coragem de as dizer, de as saber dizer e de as saber partilhar claramente e, se necessário, dizê-las com gentil e conveniente insolência, entregando-me à liberdade do compromisso urgente de cuidar de mim, sabendo cuidar do Outro e da dignidade (ontológica) da condição humana que a todos assiste.

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