sexta-feira, junho 09, 2017

SEI APENAS QUE POR AÍ NÃO VOU


Circunstância pode sugerir mera particularidade, condição ou mera qualidade determinante. Contudo, pode também instituir-se como causa, desejo ou motivação incitante ao comprometimento. Ou seja, uma circunstância que se faz ocasião e, não raras vezes, se torna acontecimento, já que força à preferência, ou mesmo, impõe a opção.

Claude Roy, no seu livro O homem em questão, anota no seu texto introdutório, duas ideias que desde 1972 – cumpria eu o serviço militar em Moçambique – eternizei no meu espírito.

A grande questão metafísica da vida quotidiana é a dos encontros. Os seres são inúmeros, mas apenas conheceremos alguns deles.

Mais à frente, acrescentava uma outra que abrilhantava e aclarava a primeira.

Viver nem sempre é escolher o que se conhece, mas é sempre escolher o que se recusa reconhecer.

Ao longo da vida, e nas mais diversas circunstâncias, a síntese destas simples intuições facultaram-me prezar (e dispor) o (do) argumento da recusa, mesmo quando confrontado com o incerto caminho a tomar. A recusa de um caminho tornou-se, nestes hipotéticos cenários, uma confiante certeza que me espicaça o risco de jornadear por veredas desconhecidas e até imprecisas. Apurei, apesar das dificuldades, que o exercício do Não, convicto e fundado, pode-se transfigurar num horizonte impensado de possibilidades e oportunidades. Diferentes, provável e naturalmente, e decerto bem mais benéficas para a Vida.


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