quarta-feira, agosto 23, 2017

ESTAREI ENGANADO?



Eis uma exposição, do meu ponto de vista, demasiada esquemática para a complexidade de valores nela inscritos e que muito prezo, tais como a partilha, o respeito e a verdade. Como diria Bragança de Miranda, na sua "Teoria da Cultura", o método pode conduzir a uma complacente tecnologização do pensamento. Se não vejamos; o que aconteceria se todos os presentes observassem o princípio aqui defendido? O improvável silêncio tornaria impraticável o próprio princípio e o cenário convertia-se num absurdo ridículo. Assim sendo, ante tal consequência original, o princípio revelar-se-ia contrafeito, porquanto não resistiria ao limite da sua possibilidade. Moral da história; saber ouvir é, ou deve ser, um valor de apreço e respeitabilidade pelo outro e pelo afazer que os une e, de modo algum, no meu entendimento ético, um desvalor perverso assente no cálculo, na necessidade, e sabe se lá, se na exploração da seriedade e da inteligência do Outro. Estarei enganado ou, de facto, em presença de um tolo chico espertismo da insolvente modernidade?

quinta-feira, agosto 17, 2017

PARA UM EXERCÍCIO MAIS ÍNTIMO

Retirado da entrevista de verão a Marcello Duarte Mathias (MDM), ao DN de hoje.

"Sim, sem querer cair numa espécie de psicanálise – a um freudismo de feira -, acho que todos temos dentro de nós uma pessoa com a qual dificilmente nos confrontamos. Julgo que todas as vidas são falhadas, mesmo aquelas que aparentemente foram conseguidas. Não falo dos domínios profissionais, mas do nosso foro íntimo, através das afetividades, dos encontros ou desencontros, das nossas ações, da diferença entre o sonho e a verdade, entre ambição e realidade… Somos todos uns falhados, uns mais do que outros, uns conseguem esconder isso melhor. Há no fundo de todos nós um recheio de obsessões íntimas e a vida é uma tentativa de nos resgatarmos dessas obsessões e dessa sensação de fracasso."

Convoco, assim, para uma recôndita e disponível reflexão, tendo por esteio esta assertiva de MDM, procurando deste modo despertar um diálogo genuíno e sincero com o sentir de cada uma das nossas verdades. A autenticidade por aqui passa…

quarta-feira, agosto 16, 2017

VERDADES E REVOLUÇÕES


20840965_2034023590069937_89526410580454051_nUm bom tema, pois há verdades (e Verdade) e também revoluções. No campo apenas das verdades, as primeiras distinguem-se da segunda na justa medida em que se colocam numa contextualidade que as determina e esclarece. A Verdade, essa outra, busca uma universalidade servindo-se decerto de uma abstração que supostamente a protege. Ao invés, as primeiras abusivamente forçam o engaste da universalidade numa particularidade que se intenta legitimar. A Verdade, essa outra imaterial, imagina-se também (por vezes) apresentar-se como uma totalidade, quiçá redutora, que tudo pensa (ou quer mesmo) arrogantemente abarcar. Neste quadro esquemático, sem pretensiosismos teóricos, assim nos vemos perante um entusiasmante imbróglio filosófico e epistemológico. Por isso, as verdades e a Verdade têm (e ganham) espaço para abraçar múltiplos planos e, igualmente, atuar em domínios diferentes de diferentes naturezas. Daí (e aí ), significados e sentidos multifacetados se fundam. Daí (e aí), as complexas revoluções se vão (ou não) realizando. Todavia, é minha forte convicção, todas elas sempre assentes nas verdades enraizadas em uma sentida e pessoal autenticidade (ou não) que nos escolta. Aqui reside, suponho eu, o eixo impulsivo da busca corajosa das nossas pequenas verdades a caminho de uma Verdade teimosamente esquiva, se bem que, nunca se sabe, potencial e existencialmente revolucionária.


sexta-feira, agosto 04, 2017

A SEDUÇÃO PREDADORA NA LÓGICA DA MILITÂNCIA (A)POLÌTICA


A retórica política porta consigo, amiudadas vezes, algumas despudoradas emboscadas. Os conhecidos e perversos efeitos destas, levam-me a reconhecer a sua espantosa eficácia. Se bem que, e é bom lembrar para o foco deste texto, o hábil uso dos seus preceitos faz-se competência porque as suas vítimas não enxergam ou aceitam o logro. Por que dele não querem saber ou, pior ainda, ao desmenti-lo prontamente, se apresentam comprazidos na sua doce ignorância. Talvez por comodidade ou, certamente, por volúvel presteza, quando não, por arrogância da própria (in)suficiência. O que me é particularmente irritante não é o que essa gente vai ou não daí obter. O que me azucrina, isso sim, é que essa gente não tolera os outros, sobretudo os incómodos espíritos críticos. Melhor, o que de facto me incomoda é a ostensiva incomplacência dessa gente com aqueles que questionam, que ousam ir além das palavras, que se atrevem a duvidar das promissões ou que, tão simplesmente, se afoitam à hermenêutica das peripécias.

E por quê a minha indignação? Por que a aparente e enganosa tranquilidade dessa gente, quando sobressaltada, e junto, a insolência que a escolta se percebe desmoralizada, o rechaço se denuncia desproporcionado, reagindo ambas em uníssono e a uma só voz em defesa de um eu tolamente narcísico. Assim, nesse derradeiro momento de inescapável fragilidade, a verdade vem ao de cima, a adulação ao discurso sedutor dos predadores, na contingência, nervosamente se sobrestima e o efeito traiçoeiro da cilada, entretanto aparelhada, cresce engajada no triste método do enxovalho argumentativo, a favor de uma silenciosa, mas calculada neutralização do pensar que se anuncia crítico. Neste chamamento ao diálogo com o campo psicanalítico, talvez se possa desobscurecer – é apenas um contributo – um dos traços identitários dessa gente maldizente e perseverante que abomina o que não sabe, ou que não lhe importa saber, e que dessa pouquidade faz do bota-abaixo, desse ao alcance da mão, a patética militância do seu martirizante mal-estar.