sexta-feira, agosto 04, 2017

A SEDUÇÃO PREDADORA NA LÓGICA DA MILITÂNCIA (A)POLÌTICA


A retórica política porta consigo, amiudadas vezes, algumas despudoradas emboscadas. Os conhecidos e perversos efeitos destas, levam-me a reconhecer a sua espantosa eficácia. Se bem que, e é bom lembrar para o foco deste texto, o hábil uso dos seus preceitos faz-se competência porque as suas vítimas não enxergam ou aceitam o logro. Por que dele não querem saber ou, pior ainda, ao desmenti-lo prontamente, se apresentam comprazidos na sua doce ignorância. Talvez por comodidade ou, certamente, por volúvel presteza, quando não, por arrogância da própria (in)suficiência. O que me é particularmente irritante não é o que essa gente vai ou não daí obter. O que me azucrina, isso sim, é que essa gente não tolera os outros, sobretudo os incómodos espíritos críticos. Melhor, o que de facto me incomoda é a ostensiva incomplacência dessa gente com aqueles que questionam, que ousam ir além das palavras, que se atrevem a duvidar das promissões ou que, tão simplesmente, se afoitam à hermenêutica das peripécias.

E por quê a minha indignação? Por que a aparente e enganosa tranquilidade dessa gente, quando sobressaltada, e junto, a insolência que a escolta se percebe desmoralizada, o rechaço se denuncia desproporcionado, reagindo ambas em uníssono e a uma só voz em defesa de um eu tolamente narcísico. Assim, nesse derradeiro momento de inescapável fragilidade, a verdade vem ao de cima, a adulação ao discurso sedutor dos predadores, na contingência, nervosamente se sobrestima e o efeito traiçoeiro da cilada, entretanto aparelhada, cresce engajada no triste método do enxovalho argumentativo, a favor de uma silenciosa, mas calculada neutralização do pensar que se anuncia crítico. Neste chamamento ao diálogo com o campo psicanalítico, talvez se possa desobscurecer – é apenas um contributo – um dos traços identitários dessa gente maldizente e perseverante que abomina o que não sabe, ou que não lhe importa saber, e que dessa pouquidade faz do bota-abaixo, desse ao alcance da mão, a patética militância do seu martirizante mal-estar.

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