quarta-feira, janeiro 10, 2018

ENLEAR A VIDA NO CRIVO HUMANO DO DIVINO


imagesApercebo-me de Deus nos arrimos que ainda hoje encontro suspensos na minha memória. Se os acho, seguramente não fui ainda capaz de lhes atribuir o destino crítico acertado. Por primordialidade, a inteligência e o sentimento sempre se conciliam. Ainda assim, em situações de premência, por vezes, se apresentam desavindos. As ideias embora se mostrem razoavelmente claras, as significações perturbam-se. Não só pelo que é dado, mas sim pela sua filiação agregada em memórias e experiências então recuperadas.

Espiritualidade e religiosidade não sendo digressivas, são abstrações dissemelhantes. Ambas procuram o que se busca encontrar para além da inteligência humana. Distinguem-se pelo argumento da liberdade e da responsabilidade que aceitam no caminho de si e da relação com o Outro e com o Mundo. O místico apresenta-se-me embaraçosamente esotérico. Sobretudo, desacompanhado da materialidade ética dos valores que todo e qualquer “conduzir-se” exige. Assim sendo, aproximando-me de Leloup, Deus, se é ou não, uma hipótese inútil, a ele (Leloup) me associo. Partilho com ele a ideia desse Deus ausente face aos acintosos sofrimentos, injustiças e maldades que a História transmite e nela permanecem.

Insculpido, em tempo de iniciação, em sintaxes ficcionais de domesticação judaico-cristã, não me foi fácil afastar dessa ensinada proveniência. Os representantes fáticos desse Deus que revivo, submetendo-se ao beato fundamento, amiudadamente se me revelaram nefastos á realização plena do humano. Assim, fui-me afastando desse caminho, numa viagem sem esse Deus mas com os homens, virtuosos, comuns ou mesmo desalmados. Contudo, todos eles desigualmente imperfeitos, sempre imperfeitos. Com eles, escolhi palmilhar os roteiros de uma outra humanidade. Cada um à sua maneira, me oferecem e concedem as suas experiências e as suas dores. Em comum, não se busca a aquietação à sombra segura de um qualquer preceito religioso.

Certo, certo, é que aprendi sempre mais com a fragilidade do desalento humano do que com a convicta e ínclita pregação. A espiritualidade, sendo inerente ao ser humano, assim se vai enriquecendo na busca dolorosa de sentidos de Vida. Pertencer a algum lugar, estar com outros, partilhar autenticidades, dispensa dogmas e paradigmas que suscitem e amamentem culpabilidades. Aqui, a imperfeição não serve de justificação mas sim de desafio, pessoal, moral, social e existencial. A espiritualidade está, estou convicto, para lá das religiosidades e das religiões. Independentemente das experiências de felicidade para os que acreditam e creem na recompensa divina.

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